segunda-feira, 29 de outubro de 2007

ATITUDE ÉTICA: COMO LIDAR COM NOSSAS PERDAS!

Vilmar Alves Pereira[1]

Olá caro leitor, diante dos episódios dos acidentes aéreos brasileiros, gostaria conversar contigo sobre um tema que na maioria das vezes não gostamos de encarar: nossas perdas. Aliás, muitos de nós, não gostamos nem de pensar em perder algo ou alguém. Essa atitude demonstra que não estamos preparados para enfrentar nossas limitações. Afinal somos seres finitos e mortais, mas almejamos transcender finitude e sermos imortais.
Conta à lenda que havia no fundo do mar um grande cardume de peixes belíssimos e imortais que contemplavam as águas mais cristalinas daquela região. Um dia um deles viu um buraco e resolveu ir verificar o que tinha nele. Andou muito até conseguir chegar ao outro lado. Chegando lá, ficou maravilhado com o que viu. Contemplou a natureza na sua mais vasta expressividade. Voltou ao encontro dos amigos e contou o que havia descoberto. Também aproveitou para convidá-los a ir viver nesse local. Quando estavam de saída um deles os lembrou: o criador nos fez assim tão belos e nós vamos abandoná-lo, sem sequer falar com ele! E foram ao encontro do criador. Este após ouvi-los, concordou com eles, mas asseverou-lhes: vocês realmente podem gozar de tudo o que lá existe, mas há apenas um impeditivo: a partir do momento que migrarem para lá perderão a imortalidade. Vocês querem enfrentar esse desafio? E todos disseram sim. Romperam com a condição de imortais e se transformaram, após migrarem, numa tribo indígena que contempla e vive uma das relações mais belas relações com a natureza no interior da Amazônia.
Assim somos nós, muitas vezes as nossas perdas quando entendidas, nos trazem inúmeros amadurecimentos. Mas, a perda não pode ser vista como fracasso e sim como concretizações. Em relação à morte, por exemplo, o filosofo Martin Heidegger afirmava que ela deve ser vista como concretização de um projeto. Em seu entender, a cada dia concretizamos parte de um projeto. Disso resulta que o envelhecimento é um fator positivo, pois possibilita-nos transcendermos cotidianamente.
Eu acredito, que ao perdemos a imortalidade e sermos mortais existem coisas muito prazerosas que só um mortal pode concretizá-la como, por exemplo: podermos externar as pessoas que amamos o quanto elas são importantes para nós; trocar afeto com aqueles que nos são caros; desejar o bem aos nossos amigos e também aos inimigos; se emocionar com o sorriso de uma criança; estender a mão ao nosso irmão que sofre; tomar uma sopa de capeleti com a família numa noite fria de inverno; tomar um sorvete com o nosso amor como se fosse a primeira vez, aproveitar cada instante dessa nossa passagem como se fosse única e primeira.
O filósofo Heráclito de Éfeso nos ensinou que: “no mesmo rio, ninguém consegue tomar banho duas vezes”. Daí criou a teoria, ainda na Grécia antiga, de que nada se repete e tudo passa. O meu conselho ao amigo leitor, é que não se frustre com a perda, mas aproveite cada instante para vê-la como aprendizado sobre algo. Conheço pessoas que quando perdem dinheiro ficam mais unidas e descobrem que o maior valor não está no dinheiro, mas no amor dedicado a pessoa que está próxima; quando perdem amigos aprendem a valorizar uma nova amizade; quando perdem status aprendem à riqueza do valor de uma grande amizade. Quando perdem a saúde aprendem a cuidar-se mais.
Que não levamos nada daqui isso é um fato. Aqueles que acreditam em alguma transcendência afirmam que “o que vai pesar em nossa balança é o pouco de amor que tivemos com o nosso semelhante.” Pense nisso e não caia no lamento diante das perdas, mas procure refletir o que realmente podemos aprender com elas.
[1] Professor de Filosofia Faculdade Anglo Americano de Caxias do Sul; doutorando em Filosofia da Educação pela UFRGS. E-mail: vilmar1972@bol.com.br.

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