domingo, 7 de outubro de 2007

ATITUDE ÉTICA: SER FELIZ!

Vilmar Alves Pereira[1]

Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles, filósofo grego, que viveu dos anos (384-322 a.C), apresenta, já naquele tempo, a felicidade como o grande anseio de todos os seres humanos. Uma das grandes perguntas de Aristóteles que move toda a sua obra é: qual é o grande fim da ação humana? E uma primeira resposta já aparece no livro I: o bem é o fim. Explica Aristóteles que existem muitos fins para cada ação e profissão. No entanto um grande fim se destaca em todas as ações do homem ético: agir visando sempre um bem. Afirma também que o estudo do bem pertence a política que é a primeira das ciências. Nesta o maior bem é que os homens aprendam a conviver de acordo com o bem no estado. Ele afirma que o homem por natureza não pode viver isolado. Afirma também que no universo da política surgem muitas contradições de opiniões até por que o Escravo o guerreiro e a mulher possuem uma natureza diferenciada de acordo com a sua casta.

Para Aristóteles visando esse bem agimos como uma espécie de juiz desenvolvendo dessa forma o nosso raciocínio no julgamento de nossas ações. Em toda a obra de Aristóteles a ética aparece sempre como algo racional para vencer as necessidades do corpo.

Continuando ele nos questiona: como devemos agir para termos uma boa vida? Qual é o seu bem supremo? I A resposta a essa questão aparece mais específico do Item cinco até o item 10 do livro I quando trata da felicidade, vejamos: “todos concordam que o fim último é a felicidade mas discordam quanto a sua essência[2]”. Ainda sobre essa discordância para ele é porque alguns homens confundem a felecidade. Desse modo ele passa os próximos itens tentando explicar as diferentes noções de felicidade (eudaimonia). Ele cita três formas em que se crê no alcance da felicidade: uma vida de prazeres ou gozos, uma vida com honra, ou política, e uma vida como filósofo.

Aqui gostaria de fazer algumas intervenções. A primeira é que já não é mais novidade o fato de que todos almejam a felicidade. A segunda é que contrário do que o Aristóteles afirmava “que ninguém consegue ser feliz sozinho”, na atual conjuntura desejamos ser feliz muitas vezes sem pensar no outro. Qual sentido teria para um ser humano ser feliz e não ter com quem dividir tal felicidade?

A terceira intervenção, e penso que é a mais séria de todas consiste na confusão que as pessoas possuem ainda da noção de felicidade. Alguns ainda a concebem como saciedade e bem estar. Ou como diria Aristóteles uma vida de gozos. Você pode estar com fome, ou com sede ou com uma dor e alguém vem e lhe oferece comida, um copo de água ou um remédio. As sensações de estar saciado, e aliviado produzem um perfeito estado de bem-estar. No entanto Aristóteles alerta que isso pode ser uma mera confusão, pois a felicidade não se encontra no bem-estar.

Em outras ocasiões possuímos um título, um encargo no qual nos é permitido ser rodeados de pessoas que nos conferem certo estatuto e respeito. Isso nos produz a honra. Aristóteles também alerta que na honra não se encontra a felicidade. Mas qual seria a virtude que nos aproxima da felicidade? Responde Aristóteles com o qual concordo que somente o homem sábio pode ser feliz. Mas que sabedoria é esta que ele reivindica? O homem sábio para Aristóteles é aquele que por conhecer as limitações humanas jamais se colocará acima dos demais, possuindo uma postura de muita humildade e cortesia em relação ao demais.

Fico imaginando quantos homens sábios e humildes temos na sociedade. São pessoas mansas e humildes, agem com cortesia no trato com os humanos. Deveriam estar nas universidades, nas empresas, escolas ensinando noções de ética para a população. São pessoas leves de espírito que nos dá gosto de ficarmos somente ouvindo. Em sua sabedoria popular contagiam os ambientes por onde passam. Não se apegam em padrões, honras e prazeres efêmeros, mas irradiam simplicidade e acima de tudo um grande gosto pela vida. Esses homens descobriram um outro sabor da felicidade. Não aquela distante inatingível, mas aquela que pode ser vivida de forma espontânea com os semelhantes. Queres ser feliz? Então pratique a atitude de se questionar: onde estou pensando encontrar a minha felicidade e verá qual itinerário estás tomando?
[1]Professor de Filosofia na Faculdade Anglo Americano de Caxias do Sul; doutorando em Filosofia da Educação pela UFRGS. E-mail: vilmar1972@bol.com.br..
[2] Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro I ítem 5.

Nenhum comentário: