segunda-feira, 29 de outubro de 2007

ATITUDE ÉTICA: COMO LIDAR COM NOSSAS PERDAS!

Vilmar Alves Pereira[1]

Olá caro leitor, diante dos episódios dos acidentes aéreos brasileiros, gostaria conversar contigo sobre um tema que na maioria das vezes não gostamos de encarar: nossas perdas. Aliás, muitos de nós, não gostamos nem de pensar em perder algo ou alguém. Essa atitude demonstra que não estamos preparados para enfrentar nossas limitações. Afinal somos seres finitos e mortais, mas almejamos transcender finitude e sermos imortais.
Conta à lenda que havia no fundo do mar um grande cardume de peixes belíssimos e imortais que contemplavam as águas mais cristalinas daquela região. Um dia um deles viu um buraco e resolveu ir verificar o que tinha nele. Andou muito até conseguir chegar ao outro lado. Chegando lá, ficou maravilhado com o que viu. Contemplou a natureza na sua mais vasta expressividade. Voltou ao encontro dos amigos e contou o que havia descoberto. Também aproveitou para convidá-los a ir viver nesse local. Quando estavam de saída um deles os lembrou: o criador nos fez assim tão belos e nós vamos abandoná-lo, sem sequer falar com ele! E foram ao encontro do criador. Este após ouvi-los, concordou com eles, mas asseverou-lhes: vocês realmente podem gozar de tudo o que lá existe, mas há apenas um impeditivo: a partir do momento que migrarem para lá perderão a imortalidade. Vocês querem enfrentar esse desafio? E todos disseram sim. Romperam com a condição de imortais e se transformaram, após migrarem, numa tribo indígena que contempla e vive uma das relações mais belas relações com a natureza no interior da Amazônia.
Assim somos nós, muitas vezes as nossas perdas quando entendidas, nos trazem inúmeros amadurecimentos. Mas, a perda não pode ser vista como fracasso e sim como concretizações. Em relação à morte, por exemplo, o filosofo Martin Heidegger afirmava que ela deve ser vista como concretização de um projeto. Em seu entender, a cada dia concretizamos parte de um projeto. Disso resulta que o envelhecimento é um fator positivo, pois possibilita-nos transcendermos cotidianamente.
Eu acredito, que ao perdemos a imortalidade e sermos mortais existem coisas muito prazerosas que só um mortal pode concretizá-la como, por exemplo: podermos externar as pessoas que amamos o quanto elas são importantes para nós; trocar afeto com aqueles que nos são caros; desejar o bem aos nossos amigos e também aos inimigos; se emocionar com o sorriso de uma criança; estender a mão ao nosso irmão que sofre; tomar uma sopa de capeleti com a família numa noite fria de inverno; tomar um sorvete com o nosso amor como se fosse a primeira vez, aproveitar cada instante dessa nossa passagem como se fosse única e primeira.
O filósofo Heráclito de Éfeso nos ensinou que: “no mesmo rio, ninguém consegue tomar banho duas vezes”. Daí criou a teoria, ainda na Grécia antiga, de que nada se repete e tudo passa. O meu conselho ao amigo leitor, é que não se frustre com a perda, mas aproveite cada instante para vê-la como aprendizado sobre algo. Conheço pessoas que quando perdem dinheiro ficam mais unidas e descobrem que o maior valor não está no dinheiro, mas no amor dedicado a pessoa que está próxima; quando perdem amigos aprendem a valorizar uma nova amizade; quando perdem status aprendem à riqueza do valor de uma grande amizade. Quando perdem a saúde aprendem a cuidar-se mais.
Que não levamos nada daqui isso é um fato. Aqueles que acreditam em alguma transcendência afirmam que “o que vai pesar em nossa balança é o pouco de amor que tivemos com o nosso semelhante.” Pense nisso e não caia no lamento diante das perdas, mas procure refletir o que realmente podemos aprender com elas.
[1] Professor de Filosofia Faculdade Anglo Americano de Caxias do Sul; doutorando em Filosofia da Educação pela UFRGS. E-mail: vilmar1972@bol.com.br.

sábado, 27 de outubro de 2007

TIPOS DE CONHECIMENTO

1- INTRODUÇÃO
Metodologia significa estudo dos métodos ou da forma, ou dos instrumentos necessários para a construção de uma pesquisa científica; é uma disciplina a serviço da Ciência. O conhecimento dos métodos que auxiliam na elaboração do trabalho científico. Metodologia adquire o nível de típica discussão teórica, inquirindo criticamente sobre as maneiras de se fazer ciência. Sendo algo instrumental, dos meios, não tem propriamente utilidade direta, mas é fundamental para a ‘utilidade’ da produção científica. A falta de preocupação metodológica leva à mediocridade fatal (DEMO, 1995, p. 12).
A atividade da pesquisa necessita de método, mesmo que este seja instrumental, a fim de orientar o pesquisador à construção de quadros teóricos do conhecimento. Demo afirma que “esse instrumento [o método] é indispensável sob vários motivos: de um lado, para transmitir à atividade marcas de racionalidade, ordenação, otimizando o esforço; de outro, para garantir contra credulidades, generalizações apressadas, exigindo para tudo que se digam os respectivos argumentos; ainda, para permitir criatividade, ajudando a devassar novos horizontes” (1995, p. 12).
Na produção científica nem tudo o que se afirma ou se faz tem a mesma solidez. Nas teorias, por exemplo, podemos perceber que alguns enunciados possuem a tessitura de uma tese, significando posturas mais ou menos aceitas. Outros são apenas hipóteses, ou suposições aceitáveis, no sentido de poderem ser argumentadas. Mas há também pontos de partida sem maiores rigores comprobatórios, e mesmo gratuitos, já que não poderíamos arcar com o compromisso de elucidar definitivamente toda e qualquer afirmação (Demo, 1995, p. 12).
2 - CONHECIMENTO “O fenômeno do conhecimento humano é, sem dúvida, o maior milagre de nosso universo” (Popper, 1975, p. 7). Popper distingue dois tipos de conhecimento: o conhecimento constituído de um estado de consciência que apenas leva a reagir, e o conhecimento, no sentido objetivo constituído de problemas, teorias e argumentos. Para Khazraí o conhecimento surge Quando todas as vozes do pensamento científico se interagem nas tendências tumultuosas da afetividade, na sala de aula, no momento do estudo, no laboratório e abre frente aos nossos olhos novas perspectivas infinitas de reflexão, e faz voarem nossos espíritos no firmamento interminável da cognição e da emoção.
É nesse ponto que a ciência e o afeto se interagem para dar origem ao que nós chamamos de conhecimento (1983, p. 2). Essa é uma forma de conhecimento essencialmente científica, principalmente por ressaltar uma forma sistemática para obter conhecimento, e as discussões científicas, sala de aula, laboratório, são elementos fundamentalmente encontrados nas universidades, institutos de pesquisas etc. Vale ressaltar que o conhecimento pode ser obtido por diversas formas, ou seja, não apenas pelo método conhecimento científico. Assim, faremos a distinção entre as maneiras encontradas para se obter conhecimento e os tipos de conhecimento.
2.1 - Métodos para Obter Conhecimento.
Os métodos conhecidos para aquisição de conhecimentos, ou para compreender a realidade dos fatos, são: sentidos, raciocínio, tradição e autoridade.
2.1.1 - Sentidos• Tudo o que a visão, o audição, o gosto, o olfato, e o tato percebem é compreendido pelos sentidos. ‘Abdu’l-Bahá menciona que “esse foi o método usado pelos filósofos europeus, e era considerado como o método principal para se adquirir conhecimento” (1979, p. 238).
2.1.2 - RaciocínioÉ esse o método da compreensão. O pesquisador prova seus objetos de pesquisa pelo raciocínio, adere firmemente às provas lógicas; todos os argumentos são provenientes da observação, leituras, experiências anteriores. Provam-se fatos por argumentos lógicos. Depois de algum período de tempo, o observador revê as mudanças ocorridas no ambiente que o conduziu às primeiras conclusões e por argumentos lógicos negam as conclusões anteriores.
“Platão primeiro provou logicamente a imobilidade e o movimento do Sol, e mais tarde, provou por argumentos lógicos ser o Sol o centro estacionário em volta do qual a Terra se movia. Subseqüentemente, a teoria ptolemaica foi divulgada, vindo, assim, a ser esquecida a idéia de Platão, até que, afinal, um novo observador a ressuscitou. Todos os matemáticos, pois, dissentiram, embora dependessem de argumentos racionais” (‘Abdu’l-Bahá, 1975, p. 238).
Donde se conclui que esse é o método que mais permeia as pesquisas científicas. Os cientistas têm opiniões diferentes porque seus sistemas de valores não são unívocos. O pesquisador deve ter a liberdade para pesquisar suas idéias, seguindo regras, métodos e espírito crítico próprios.
2.1.3 - Tradição“Tampouco é perfeito este método, porque as tradições são compreendidas pelo, raciocínio. Já que o próprio raciocínio é sujeito ao erro, como pode-se dizer que não errará em interpretar o significado das tradições? É possível que se engane; não se pode atingir a certeza. É este o método dos teólogos” (‘Abdu’l-Bahá, 1975, p. 239). Também aprendemos por tradição a cura por meio de chás, e normalmente não é questionada a razão dos fatos; assim, podemos afirmar que o conhecimento obtido pelas tradições pode incorrer em dogmas. 2.1.4 - AutoridadeGil considera a “autoridade oriunda dos pais, professores que descrevem o mundo para as crianças. Governantes, líderes partidários, jornalistas e escritores definem normas e procedimentos que para eles são os mais adequados. E à medida que segmentos da população lhes dão crédito, esses conhecimentos são tidos como verdadeiros” (1994, p. 19-20).
Autoridade é uma palavra que fornece um sentido dicotômico. Pode ser entendida como um vocábulo referente àquele que exerce ou tem poder sobre outrem, ou àquele que domina um determinado campo do conhecimento. Embora o argumento da autoridade seja parceiro inevitável do científico, mesmo porque o cientista se atribui autoridade, é preciso limitar sua abrangência. Muitas vezes usamos como critério decisivo do científico a maior ou menor adequação ao nosso modo particular de ver o científico. Isso equivale a dizer que, se estivermos de acordo, será científico; do contrário, não. Tal colocação é um equívoco, em todos os sentidos. Se metodologicamente a atividade produz posturas diferentes, é ilógico e injusto rebaixar o ‘diferente’, só porque nos é adverso, ao ‘não-científico’ (Demo, 1995, p. 42-43).
Muitas vezes se procura citar os autores que representam maior autoridade em determinado ramo do conhecimento, em decorrência do respeito, do domínio do conhecimento. Também, por não compartilharmos de determinada idéia ou corrente filosófica não deveríamos desconsidera-las. Uma das limitações desse método é o pesquisador ficar restrito ao conhecimento da autoridade. “O apelo ao argumento da autoridade sempre aparece e pode mesmo ser o decisivo.
O apelo a ele não pode ser visto apenas como infantilismo científico, porque é condição normal social da atividade científica” (Demo, 1995, p. 42-43). 2.2 - Tipos de ConhecimentoNormalmente, os metodólogos [Gil, Trujillo Ferrari, Lakatos & Marconi] apresentam quatro classificação do conhecimento, a saber: popular, religioso, filosófico e científico. Iudícibus (1997b, p. 68), apresenta um quadro sintético desses conhecimentos:
Conhecimento Popular Conhecimento Religioso valorativo valorativo reflexico inspiracional (dogmático) assistemático verificável sistemático não-verificável falível infallível inexato exato Conhecimento Filosófico Conhecimento Científico valorativo explorativo racional (lógico) racional-contingencial sistemático assistemático não-verificável verificável infalível falível exato Aproximadamente exato.
2.2.1 - Conhecimento Popular
O conhecimento popular é assistemático e é conferido pela familiaridade que se tem com os objetos, geralmente é aquele conhecimento adquirido no meio familiar. “Esse conhecimento é resultado de suposições e de experiências pessoais. Portanto, e informação íntima, porém não sistematizada, desde que não foi suficientemente refletida para ser reduzida a uma formulação geral. De modo que tais experiências não podem ser transmitidas fácil e compreensivelmente de uma pessoa para outra. Assim, pelo conhecimento familiar, as pessoas sabem que água é um líquido; mas, não compreender como se origina e qual é a sua composição molecular, assunto que já corresponde ao domínio da ciência” (Trujillo Ferrari, 1982, p. 6).
No exemplo da água, dado por Trujillo Ferrari, é mencionado que não se pode compreender sua origem, acreditamos que nesse nível de conhecimento [popular] não há preocupação com a origem dos fatos de uma forma geral, visto que apresenta como características valorativas, assistemáticas, falível, inexato, entre outras.
2.2.2 - Conhecimento ReligiosoAs crenças religiosas costumam constituir fontes privilegiadas de conhecimento, e por se tratar do conhecimento do Ser superior, sobrepõem-se a qualquer outra forma. Bahá’u’llah, o fundador da “Fé Bahá’í”, afirma que: “A origem de toda erudição é o conhecimento de Deus - exaltada seja a Sua glória - e este só será atingido através do conhecimento de Seu Manifestante Divino” (1983, p. 175). De acordo com a visão “Bahá’í”, o verdadeiro conhecimento é alcançado quando se permite pesquisar sem preconceitos os livros sagrados que emanam dos manifestantes divinos, tais como Cristo, Moisés, Maomé, Buda Krishna, e outros. Analisando o conhecimento religioso pela comunidade científica apontaremos a definição de Trujillo Ferrari. O conhecimento religioso ou, mais propriamente dito, conhecimento teológico, implica na crença de que as verdades tratadas são infalíveis, por serem reveladas pelo sobrenatural. É um conhecimento sistemático do mundo como obra de um criador divino e cujas evidências não são verificadas.
Neste caso, a adesão do crente é um ato de fé. Enquanto que na ciência a verdade a ser atingida é falível e se sustenta em teorias que podem ser substituídas por outras mais efetivas ou válidas, o conhecimento religioso se apóia na doutrina que contém proposições sagradas (1982, p. 6). Khazraí, citando ‘Abdu’l-Bahá, afirma que “não há contradição entre a verdadeira religião e a ciência. Quando a religião se opõe à ciência, ela não passa de mera superstição: o que é contrario ao conhecimento é ignorância” (1987b, p. 28).
Quando houver acordo entre a ciência e a religião, a disputa entre o dogmatismo e o pragmatisno, empirismo e racionalismo o fim da disputa entre esses -ismos, possivelmente teremos cientistas menos materialistas e teólogos menos fanáticos.
2.2.3 - Conhecimento Filosófico. Em filosofia é permitido e usual colocar antecipadamente hipóteses que não podem ser submetidas ao crucial teste da observação. As hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência; portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação. Daí, a verificação dos enunciados filosóficos não serem confirmados nem refutados, o que não ocorre com as hipóteses dentro do campo de ciência (TRUJILLO FERRARI, 1982, p. 7).
A partir desse ponto de vista verifica-se que o conhecimento filosófico advém da observação - formulação de hipóteses - e a experimentação - verificação da hipótese. Gil considera que “os filósofos proporcionam importantes elementos para a compreensão do mundo. Em virtude de se fundamentar em procedimentos racional-especulativos, os ensinamentos dos filósofos têm sido considerados como dos mais válidos para proporcionar o adequado conhecimento do mundo” (1995, p. 20).
Vimos, assim, que o conhecimento filosófico vai da observação à experimentação, sendo, portanto, valorativo, racional, sistemático, não-verificável, infalível, exato. Iudícibus afirma que o conhecimento filosófico [...]“é aproximadamente exato (pelo menos nas ciências não-matemáticas), no sentido de que, por trabalhar com modelos, estes não têm a possibilidade de escolher todas as variáveis, principalmente nas ciências sociais” (1997, p. 68).
2.2.4 - Conhecimento Científico.
Esse tipo de conhecimento se distingue dos demais tipos apresentados, visto que oferece a verificação do fato pesquisado, é falível e sistemático. A ciência se preocupa em estabelecer as propriedades e os padrões interdependentes entre as propriedades, para construir as generalizações ou as leis. Não se duvida, entretanto, que muitas das disciplinas científicas existentes têm surgido das preocupações práticas da vida cotidiana, como a geometria dos problemas de medição e relevantamento topográfico nos campos; a mecânica de problemas apresentados pelas artes arquitetônicas; a biologia dos problemas humanos [...] (Trujillo Ferrari, 1982, p. 6).
A pesquisa científica deve ser orientada para remover barreiras e procurar resolver ou apresentar soluções para os problemas sociais, econômicos, políticos e científicos. Conforme Lakatos & Marconi, “a logicidade da ciência manifesta-se através de procedimentos e operações intelectuais que: • possibilitam a observação racional e controlam os fatos; • permitem a interpretação e a explicação adequada dos fenômenos; • contribuem para a verificação dos fenômenos, positivados pela experimentação; • fundamentam os princípios da generalização ou o estabelecimento dos princípios e das leis (1995, p.21). Para pesquisar ou elaborar um conhecimento científico, tornam-se necessário os seguintes pontos: • Construir o objeto de pesquisa; • Elaborar as hipóteses ou questões de pesquisa; • Traçar os objetivos para testar as hipóteses ou responder as questões elaboradas; • Apresentar as conclusões alcançadas. Conforme o exposto, o conhecimento científico é estruturado, limitado e utilizam-se modelos, verificáveis, falíveis, aproximadamente exatos, como foram caracterizados por Iudícibus. Concluímos que as verdades científicas são provisóriasPUBLICADO: Anais do VI Congresso Internacional de Gestão Estratégica de Custos/ Braga - Portugal.1999. Revista Brasileira de Contabilidade, n o 99. (Revista com Circulação no MERCOSUL).Autora: NÉLO, Ana Maria

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Senso moral e consciência moral

Convite à Filosofia
De Marilena Chaui
Ed. Ática, São Paulo, 2000.

Unidade 8
O mundo da prática

Capítulo 4
A existência ética


Muitas vezes, tomamos conhecimento de movimentos nacionais e internacionais de luta contra a fome. Ficamos sabendo que, em outros países e no nosso, milhares de pessoas, sobretudo crianças e velhos, morrem de penúria e inanição. Sentimos piedade. Sentimos indignação diante de tamanha injustiça (especialmente quando vemos o desperdício dos que não têm fome e vivem na abundância). Sentimos responsabilidade. Movidos pela solidariedade, participamos de campanhas contra a fome. Nossos sentimentos e nossas ações exprimem nosso senso moral.

Quantas vezes, levados por algum impulso incontrolável ou por alguma emoção forte (medo, orgulho, ambição, vaidade, covardia), fazemos alguma coisa de que, depois, sentimos vergonha, remorso, culpa. Gostaríamos de voltar atrás no tempo e agir de modo diferente. Esses sentimentos também exprimem nosso senso moral.

Em muitas ocasiões, ficamos contentes e emocionados diante de uma pessoa cujas palavras e ações manifestam honestidade, honradez, espírito de justiça, altruísmo, mesmo quando tudo isso lhe custa sacrifícios. Sentimos que há grandeza e dignidade nessa pessoa. Temos admiração por ela e desejamos imitá-la. Tais sentimentos e admiração também exprimem nosso senso moral.

Não raras vezes somos tomados pelo horror diante da violência: chacinas de seres humanos e animais, linchamentos, assassinatos brutais, estupros, genocídio, torturas e suplícios. Com freqüência, ficamos indignados ao saber que um inocente foi injustamente acusado e condenado, enquanto o verdadeiro culpado permanece impune. Sentimos cólera diante do cinismo dos mentirosos, dos que usam outras pessoas como instrumento para seus interesses e para conseguir vantagens às custas da boa-fé de outros. Todos esses sentimentos manifestam nosso senso moral.

Vivemos certas situações, ou sabemos que foram vividas por outros, como situações de extrema aflição e angústia. Assim, por exemplo, uma pessoa querida, com uma doença terminal, está viva apenas porque seu corpo está ligado a máquinas que a conservam. Suas dores são intoleráveis. Inconsciente, geme no sofrimento. Não seria melhor que descansasse em paz? Não seria preferível deixá-la morrer? Podemos desligar os aparelhos? Ou não temos o direito de fazê-lo? Que fazer? Qual a ação correta?

Uma jovem descobre que está grávida. Sente que seu corpo e seu espírito ainda não estão preparados para a gravidez. Sabe que seu parceiro, mesmo que deseje apoiá-la, é tão jovem e despreparado quanto ela e que ambos não terão como se responsabilizar plenamente pela gestação, pelo parto e pela criação de um filho. Ambos estão desorientados. Não sabem se poderão contar com o auxílio de suas famílias (se as tiverem).

Se ela for apenas estudante, terá que deixar a escola para trabalhar, a fim de pagar o parto e arcar com as despesas da criança. Sua vida e seu futuro mudarão para sempre. Se trabalha, sabe que perderá o emprego, porque vive numa sociedade onde os patrões discriminam as mulheres grávidas, sobretudo as solteiras. Receia não contar com os amigos. Ao mesmo tempo, porém, deseja a criança, sonha com ela, mas teme dar-lhe uma vida de miséria e ser injusta com quem não pediu para nascer. Pode fazer um aborto? Deve fazê-lo?

Um pai de família desempregado, com vários filhos pequenos e a esposa doente, recebe uma oferta de emprego, mas que exige que seja desonesto e cometa irregularidades que beneficiem seu patrão. Sabe que o trabalho lhe permitirá sustentar os filhos e pagar o tratamento da esposa. Pode aceitar o emprego, mesmo sabendo o que será exigido dele? Ou deve recusá-lo e ver os filhos com fome e a mulher morrendo?

Um rapaz namora, há tempos, uma moça de quem gosta muito e é por ela correspondido. Conhece uma outra. Apaixona-se perdidamente e é correspondido. Ama duas mulheres e ambas o amam. Pode ter dois amores simultâneos, ou estará traindo a ambos e a si mesmo? Deve magoar uma delas e a si mesmo, rompendo com uma para ficar com a outra? O amor exige uma única pessoa amada ou pode ser múltiplo? Que sentirão as duas mulheres, se ele lhes contar o que se passa? Ou deverá mentir para ambas? Que fazer? Se, enquanto está atormentado pela decisão, um conhecido o vê ora com uma das mulheres, ora com a outra e, conhecendo uma delas, deve contar a ela o que viu? Em nome da amizade, deve falar ou calar?

Uma mulher vê um roubo. Vê uma criança maltrapilha e esfomeada roubar frutas e pães numa mercearia. Sabe que o dono da mercearia está passando por muitas dificuldades e que o roubo fará diferença para ele. Mas também vê a miséria e a fome da criança. Deve denunciá-la, julgando que com isso a criança não se tornará um adulto ladrão e o proprietário da mercearia não terá prejuízo? Ou deverá silenciar, pois a criança corre o risco de receber punição excessiva, ser levada para a polícia, ser jogada novamente às ruas e, agora, revoltada, passar do furto ao homicídio? Que fazer?

Situações como essas – mais dramáticas ou menos dramáticas – surgem sempre em nossas vidas. Nossas dúvidas quanto à decisão a tomar não manifestam apenas nosso senso moral, mas também põem à prova nossa consciência moral, pois exigem que decidamos o que fazer, que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas decisões e que assumamos todas as conseqüências delas, porque somos responsáveis por nossas opções.

Todos os exemplos mencionados indicam que o senso moral e a consciência moral referem-se a valores (justiça, honradez, espírito de sacrifício, integridade, generosidade), a sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha, culpa, remorso, contentamento, cólera, amor, dúvida, medo) e a decisões que conduzem a ações com conseqüências para nós e para os outros. Embora os conteúdos dos valores variem, podemos notar que estão referidos a um valor mais profundo, mesmo que apenas subentendido: o bom ou o bem. Os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bom e o mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a algo mais profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos contentes conosco mesmos, seja por recebermos a aprovação dos outros.

O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. Dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto, nascem e existem como parte de nossa vida intersubjetiva.



Passos para a construção do projeto de pesquisa

Principais elementos do projeto de pesquisa[1]

Todo trabalho científico parte da elaboração de um projeto de pesquisa. O Projeto é uma das etapas componentes do processo de elaboração, execução e apresentação da pesquisa. Tem como prioridade demonstrar as atividades indispensáveis para o desenrolar da pesquisa, esclarecendo para o próprio pesquisador os rumos do estudo (o que pesquisar, como pesquisar, para que ou para quem pesquisar, quando e onde pesquisar). Além disso, um pesquisador precisa comunicar seus propósitos de pesquisa para que seja aceito na comunidade científica e para obter financiamento. Esse “meio de comunicação” reconhecido no mundo científico é o projeto de pesquisa. Os projetos são, obviamente, submetidos à leitura e apreciação de terceiros; como cada instituição financiadora tem um formato de projeto, a elaboração específica de apresentação do projeto pode variar.
Operacionalmente, na primeira página ou na folha de rosto, indica-se a entidade destinatária do projeto, o nome do projeto, o autor ou autores, o local e ano.
Os demais itens indispensáveis do projeto de pesquisa são:
l tema;
l problema;
l justificativa;
l hipótese ou questões norteadoras;
l objetivos;
l referencial teórico (marco ou base teórica);
l metodologia;
l cronograma de execução;
l orçamento;
l fonte financiadora;
l referências.


2 Tema

O Tema é a primeira etapa de elaboração de um projeto de pesquisa. Trata-se da definição do assunto que se quer estudar e investigar. O tema pode ser escolhido pelo aluno, no qual tenha maior interesse para enriquecimento do saber, obedecendo aos critérios de relevância, viabilidade e originalidade (no caso de doutorado). Neste sentido, o tema é amplo e consiste no assunto geral sobre a sua pesquisa.
O tema da pesquisa é definido quando se responde à pergunta: qual o assunto a ser explorado? A escolha do tema de pesquisa tem caráter pessoal, amplo, aberto às preocupações e indagações do pesquisador. Envolve um conjunto de juízos de valores dentro do campo que se pretende pesquisar.

A escolha de um tema de pesquisa nunca se dá no vazio, ela é sempre influenciada pelos fatores internos correspondentes ao próprio investigador (curio­sidade, imaginação, experiência, filosofia) e por fatores externos à realidade circun­dante ou ainda à instituição que o pesquisador se filie (BARROS; LEHFELD, 1986, p. 100).

A escolha do tema a ser investigado deve ser feita com base em estudos preliminares, fundamentados nas informações bibliográficas pertinentes, nas inquietações do pesquisador sobre os problemas referentes ao assunto, nas conversas com outros pesquisadores sobre o estudo que se pretende realizar.
Bastos e Keller (2000) defendem a pesquisa bibliográfica como preliminar às pesquisas de campo ou às de laboratório.
Por exemplo: se seus alunos são indisciplinados e você não sabe por que isso acontece, o primeiro passo, antes de qualquer pesquisa in loco, é a elaboração de um projeto para pesquisar, aprofundar-se teoricamente sobre o assunto. Neste caso, o tema a ser pesquisado é: INDISCIPLINA NA ESCOLA.
Posteriormente, diante de um novo olhar, agora com mais cientificidade, você pode realizar uma nova pesquisa, com um tema mais específico: A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA DOS ALUNOS DA 3ª SÉRIE DA ESCOLA ESTADUAL LEONILLA MARINHO, NA CIDADE DE MANAUS/AM.

3 Problema

Entende-se como um problema a questão que ainda não foi solucionada, objeto de muita discussão e de estudo. É oriundo da observação dos fatos no contexto de uma realidade.
A problematização é aquilo que um pesquisador visualiza em sua amplitude numa determinada realidade, ou seja, não tem um problema específico, mas inúmeros objetos a pesquisar. Para se chegar ao problema é recomendável ao educador ter bastante claro qual o tema que irá pesquisar. Daí surge a formulação de perguntas ao tema.
Um problema aparece em decorrência de um aprofundamento do tema que é sempre individualizado e específico. Responde à pergunta: o que se quer investigar?
Diante disso, pode-se destacar as seguintes CARACTERÍSTICAS:
1.Deve ser sempre formulado como pergunta. Por exemplo: Qual a concepção dos alunos do curso do magistério sobre o estágio curricular? Quais os fatores que dificultam a aplicação do estágio?
2.Deve ser claro e preciso;
3.Deve ser bem delimitado. Um problema amplo e sem delimitação dificulta a sua investigação. Por exemplo: o que pensa a sociedade sobre a evasão escolar?
4.Deve ser exeqüível à competência do pesquisador. Por exemplo: um assunto complexo requer conhecimento e capacidades mentais de um pesquisador experiente e não de um pesquisador principiante;
5.Deve ser coerente quanto à disponibilidade de recursos. Por exemplo: uma pesquisa que requer os recursos de uma universidade, não poderá ser feita com os parcos recursos financeiros de um estudante.
Segundo Rúdio (2001, p.95-96), para a escolha de um problema de forma objetiva, deve-se responder às seguintes indagações:
a) este problema pode realmente ser resolvido pelo processo de pesquisa científica?
b) o problema é suficientemente relevante a ponto de justificar que a pesquisa seja feita ( se não é tão relevante, existe com certeza, outros problemas mais importantes que estão esperando pesquisas para serem resolvidos)?
c) trata-se realmente de um problema original?
d) a pesquisa é factível?
e) ainda que seja “bom” o problema é adequado para mim?
f) pode se chegar a uma conclusão valiosa?
g) tenho condições para planejar e executar um estudo desse tipo?
h) os dados que a pesquisa exige, podem realmente ser obtidos?
i) há recursos financeiros disponíveis para a realização da pesquisa?
j) terei tempo de terminar o projeto?
k) serei persistente?

3.1 Delimitação e
formulação do problema

Para que o pesquisador delimite e formule o problema com clareza necessária, é indispensável que o pesquisador se apóie na sua prática cotidiana e nas vivências dos problemas decorrentes do seu desempenho profissional.
É importante salientar certa diferença entre delimitação e formulação do problema.
a) delimitação do problema significa um encaminhamento com maior clareza da teoria que alimenta o esforço do pesquisador. A delimitação pode ser feita pelo pesquisador com pouco ou nenhum contato com o meio que interessa investigar, mas para isso é indispensável ter clareza metodológica e experiência no campo de pesquisa. Delimita-se na medida em que o investigador determina o problema e as pessoas no estudo em diferentes níveis de participação das mesmas;
b) formulação de um problema consiste em expor de maneira objetiva, compreensível e operacional, a dificuldade que o pesquisador pretende resolver, explicitando o seu campo e apresentando suas características.
A delimitação do problema é bem mais específica que a formulação. Uma boa formulação do problema requer a devida articulação com os enfoques teóricos. Seja qual for o ponto de vista teórico que oriente o trabalho do pesquisador algumas obrigações são elementares: a precisão e a clareza são essenciais para a exatidão dos estudos.

4 Justificativa

A justificativa de um projeto é a defesa de sua exeqüibilidade. Nela se expõe de forma convincente a relevância da pesquisa. Através dela o pesquisador irá demonstrar o porquê de estar estudando o assunto.
Sua redação não deve ser extensa procurando necessariamente, apontar, segundo Monteiro (1998, p.32) a existência de uma “[...] lacuna na chamada construção do saber, que pode ser preenchida com o projeto a ser desenvolvido”.
Recomenda ainda que: “o importante é que a linguagem seja clara e objetiva e que as informações se complementem e dêem unidade ao texto que se está apresentando” (MONTEIRO, 1998, p. 33).
A justificativa se faz importante à medida que mostra as razões da preferência pelo assunto escolhido e sua importância face a outros temas.
Para Gil (1991, p.145) uma pesquisa de natureza científica ou acadêmica, deve indicar em sua justificativa os seguintes dados:

O estágio de desenvolvimento dos conhecimentos referentes ao tema;
As contribuições que a pesquisa pode trazer com vistas a proporcionar respostas aos problemas propostos ou ampliar as formulações teóricas a esse respeito;
A relevância social do problema a ser investigado;
A possibilidade de sugerir modificações no âmbito da realidade abarcada pelo tema.

Diz ainda que:

No caso de pesquisas de natureza prática, a justificativa deve considerar os objetivos da instituição e os benefícios que os resultados da pesquisa poderão proporcionar. Os cuidados com a elaboração da justificativa devem ser redobrados no caso de pesquisas para as quais se solicita algum tipo de financiamento, já que a entidade financiadora necessita de boas razões para justificar o investimento (GIL, 1991, p. 145).

4.1 Operacionalizando a justificativa

A elaboração de uma justificativa não é tarefa tão fácil como se imagina. Faz-se necessário que o pesquisador tenha um certo conhecimento preliminar acerca do tema que norteia o objeto a ser investigado, para demonstrar a relevância do projeto de pesquisa. Neste sentido, é importante responder às seguintes indagações: Qual a importância do tema escolhido? Qual a sua relevância para as pessoas envolvidas? Qual a sua provável contribuição para a área de estudo em questão e para as áreas afins? E a sua contribuição social? Tudo isso é primordial para que o seu projeto consiga respeitabilidade científica diante da pesquisa que será realizada.
Bagno (2001, p.29) expõe sua experiência:

A justificativa é a defesa que você faz de seu projeto. Nela você apresenta argumentos que convençam as pessoas de que aquele trabalho é digno de interesse e de... financiamento! Os órgãos que dão verbas para a realização de pesquisas querem saber minuciosamente por que aquele projeto merece investimento. Já me aconteceu de preparar um projeto lindíssimo e receber de volta um parecer com as palavras: justificativa insuficiente. Caprichei no título, detalhei os objetivos, mas não fui convincente o bastante na justificativa.

A diferença da justificativa para fundamentação teórica é que na redação da primeira não existem citações ou explicações no plano teórico sobre o assunto. Há a necessidade da capacidade de convencimento do pesquisador sobre a importância do seu trabalho. Acerca disso, Marconi e Lakatos (2000, p. 219) afirmam:

A justificativa difere da revisão da bibliografia e, por este motivo, não apresenta citações de outros autores. Difere, também, da teoria de base, que vai servir de elemento unificador entre o concreto da pesquisa e o conhecimento teórico da ciência na qual se insere. Portanto, quando se trata de analisar as razões de ordem teórica ou se referir ao estágio de desenvolvimento da teoria, não se pretende explicitar o referencial teórico que se irá adotar, mas apenas ressaltar a importância da pesquisa no campo da teoria.

5 Hipótese ou questões norteadoras

Antes de se iniciar o assunto em questão, seria necessário uma interpretação acerca da palavra HIPÓTESE. Para Triviños (1987, p.105): “A hipótese envolve uma possível verdade, um resultado provável. É uma verdade pré-estabelecida, intuída, com o apoio de uma teoria”. Uma hipótese é a provável solução do problema identificado. É em função da hipótese ou hipóteses estabelecidas, que se estrutura todo o caminho a ser percorrido pelo pesquisador. Ou seja, é uma suposição possível acerca do porquê do problema, na tentativa de uma explicação preliminar do mesmo, que necessitará de uma comprovação na pesquisa. Neste sentido, a hipótese pode ser uma suposição tanto negativa quanto positiva.

5.1 Importância das hipóteses

Segundo Kerlinger apud Marconi e Lakatos (2000), os fatores que demonstram a importância das hipóteses são:
a) as hipóteses são “instrumentos de trabalho” da teoria, pois novas hipóteses podem dela ser deduzidas;
b) podem ser testadas e julgadas como provavelmente verdadeiras ou falsas;
c) constituem instrumentos poderosos para o avanço da ciência, pois sua comprovação requer que se tornem independentes dos valores e opiniões dos indivíduos;
d) dirigem a investigação, indicando ao investigador o que procurar ou pesquisar;
e) pelo fato de serem comumente formulações relacionais gerais, permitem ao pesquisador deduzir manifestações empíricas específicas, com elas correlacionadas;
f) desenvolvem o conhecimento científico, auxiliando o investigador a confirmar (ou não) sua teoria,
g) incorporam a teoria (ou parte dela) em forma testável ou quase testável.

5.2 Função das hipóteses

Conforme Jolivert apud Marconi e Lakatos (2000), a função das hipóteses é:

a) dirigir o trabalho do cientista, constituindo-se em princípio de invenção e progresso, à medida que ajuda de fato a imaginar os meios a aplicar e na utilização dos métodos no prosseguimento da pesquisa e na tentativa de se chegar à certeza;
b) coordenar os fatos já conhecidos, ordenando os materiais acumulados pela observação.


6 Objetivos: Lógica e Formulação

É um dos tópicos mais importantes de um projeto de pesquisa. Pois é a resposta às pretensões do pesquisador com a pesquisa. Corresponde a pergunta “para quê” ou seja, para que pesquisar a temática escolhida?
A lógica para a formulação dos objetivos de pesquisa deve ser coerente com o tema e o problema do projeto de pesquisa. Comumente os iniciantes na pesquisa confundem os objetivos de caráter investigativo com objetivos didáticos, de planos de ensino. Quanto à formula­ção, essencialmente, os objetivos devem ser elaborados com verbos no infinitivo, podendo ser organizados em duas partes: objetivo geral e específico.

Os objetivos ao serem formulados devem ser capazes de serem atingidos.
Não podemos esquecer que os objetivos devem vir sempre no infinitivo.

a) Objetivo Geral

O projeto de pesquisa científica deve ter verbos que indiquem a “ação intelectual”, cujo produto final possa ser verificado. Neste sentido, o objetivo geral exige uma articulação com os objetivos específicos. De preferência, elabora-se um objetivo geral mais abrangente que possa ter sustentação nos objetivos específicos.
Compreender, analisar, avaliar, conhecer, investigar, desenvolver são exemplos de verbos que podem caracterizar o objetivo geral.
Exemplo - Analisar a evasão escolar nas escolas municipais de Manaus-Am.

b) Objetivos Específicos

As ações intelectuais já elaboradas devem ser divididas em partes possíveis para resolvê-las. Assim, uma ação expressa em objetivo geral será transformada em vários objetivos específicos que forem necessários para o estudo e a solução satisfatória do objetivo geral.
Conforme Santos (2001), sugere-se a montagem de objetivos específicos em quatro momentos:
1.Levantamento dos aspectos componentes importantes do problema;
2.Transformação de cada um dos aspectos escolhidos em um objetivo;
3.Verificação da suficiência dos objetivos específicos propostos;
4.Decisão quanto à melhor seqüência lógica.

Identificar, selecionar, classificar, sistematizar, comparar, relacionar são exemplos de verbos que podem caracterizar os objetivos específicos.
Exemplo:
-Selecionar as escolas municipais de Manaus-Am com maior índice de evasão escolar;
-Identificar os fatores da evasão escolar nas escolas municipais de Manaus-Am;
-Sistematizar as conseqüências da evasão escolar para os alunos evadidos.

7 Referencial Teórico (marco ou base teórica)

Todo projeto de pesquisa deve conter as premissas ou pressupostos teóricos sobre os quais o pesquisador fundamentará sua interpretação. Um bom marco teórico não é aquele que contém muitas páginas e sim o que trata com profundidade os aspectos relacionados com o problema, e vincula com lógica e coerentemente conceitos e proposição existente em estudos anteriores.

Neste sentido, Minayo (1993, p.18) assim estabelece:
“A teoria é construída para explicar ou compreender um fenômeno, um processo ou um conjunto de fenômenos e processos. [...] Nenhuma teoria, por mais bem elaborada que seja, dá conta de explicar todos os fenômenos e processos. [...] Teorias, portanto, são explicações parciais da realidade”.

Uma vez estabelecido o problema, as hipóteses, a justificativa e os objetivos, o passo seguinte consiste em sustentar teoricamente o estudo, etapa que alguns autores denominam de marco ou base teórica. Isso implica analisar e expor as teorias, os enfoques teóricos, as pesquisas e os antecedentes em geral que se considerem válidos para o correto enfoque do estudo.

7.1 Funções do marco teórico

O marco teórico cumpre diversas funções dentro de uma pesquisa, entre as quais destacam-se as seguintes:
a)ajuda a prevenir erros que já tenham sido cometidos em outros estudos;
b)amplia o horizonte do estudo e guia o pesquisador para que se centre em seu problema;
c) inspira novas linhas e áreas de pesquisa.

7.2 Etapas da elaboração
do marco teórico

A elaboração do marco teórico compreende duas etapas principais:
a) a pesquisa da literatura correspondente;
b) a adoção de uma teoria com o desenvolvimento por uma perspectiva teórica.
Dessa forma, há alguns cuidados que devem ser levados em consideração na elaboração do marco teórico:
a) não oferecer referências falsas;
b) não inventar referências bibliográficas;
c) fazer menção somente àqueles livros que você realmente utilizou para pesquisar;
d) não atribuir a um autor uma idéia que pertence a outro;
e) observar o caráter histórico de contextualização da obra consultada;
f) usar sempre as informações das edições mais recentes:

8 Metodologia

8.1 Conceito

A Metodologia como parte integrante de um projeto de pesquisa se configura nos passos por onde o pesquisador deve caminhar para orientar a condução da investigação científica. Nesta compreensão, Thiollent (2000, p.25) afirma: “a metodologia lida com a avaliação de técnicas de pesquisa e com a geração ou a experimentação de novos métodos que remetem aos modos efetivos de captar e processar informações e resolver diversas categorias de problemas teóricos e práticas da investigação”.
A Metodologia, no projeto de pesquisa, nas ciências sociais, em que se insere a edu­cação, deve ter um caráter qualitativo referente às abordagens metodológicas. Esse caráter deve ser resultante da corrente filosófica episte­mológica que fundamenta a pesquisa.
Neste sentido, devem-se quebrar as barreiras da quantificação ou qualificação da pesquisa, vistas simploriamente sem uma conexão com o todo maior da pesquisa, pois o grande pressuposto da abordagem qualitativa está em ver o mundo e o homem de forma dinâmica, complexa, viva, em movimento com a concreticidade e a subjetividade que a eles pertencem.
Isso significa, por exemplo, que determinadas pesquisas necessitam da coleta de dados quantitativos, principalmente na fase exploratória, mas o tratamento de análise desses dados é realizado de forma qualitativa. O importante é o procedimento teórico-epistemológico (gnosiológico) que fundamenta a pesquisa, com a visão ontológica que o pesquisador se propõe a investigar.
Tais perspectivas são exploradas por Santos e Gamboa (2000, p.88-89):

As alternativas devem ser colocadas no nível das grandes tendências episte­mológicas que fundamentam não somente as técnicas, os métodos e as teorias, mas também a articulação desses níveis entre si e desses níveis com seus pressupostos epistemológicos [...] Quando recuperamos o todo maior (neste caso, o enfoque epistemológico), remetemos a opção e a discussão sobre as alternativas da pesquisa não à escolha de algumas técnicas ou métodos, mas aos enfoques epistemológicos que, como um todo maior, articulam outros elementos constitutivos por meio da construção de uma lógica interna (a própria lógica da pesquisa) necessária para preservar o rigor e o significado do processo científico.

Principais Métodos
Técnicas das Ciências Sociais

1. Método Indutivo, cuja corrente filosófica é o empirismo, sendo fortemente utilizado pelo positivismo;
2. Método Hipotético-dedutivo, cuja corrente filosófica é o neopositivismo;
3. Método Fenomenológico, ou abordagem fenomenológica, cuja corrente filosófica é a fenomenologia;
4 Método Dialético, cuja corrente filosófica é o materialismo dialético.

Observação Direta Intensiva

Compreende nas técnicas de observação e entrevista. A observação, conforme Marconi e Lakatos (2000) pode ser classificada da seguinte forma:
a) Quanto aos meios: assistemática e sistemática.
b) Quanto a participação do observador: não participante e participante.
c) Quanto ao número de observações: individual e em equipe.
d) Quanto ao lugar: na vida real (campo) e em laboratório.

Assistemática – Também conhecida como observação não estruturada, caracteriza-se pela observação a ser realizada no decorrer do cotidiano, de forma livre. Cabe ao observador estar atento aos fenômenos para serem devidamente anotado para posterior análise.

Sistemática – Conhecida também como estruturada, controlada, planejada. Nela, o pesquisador se instrumentaliza objetivamente para colher da realidade aquilo que lhe interessa, que compõe tanto o seu objeto quanto os objetivos a serem alcançados na pesquisa, através de quadros, anotações, escalas etc.
Na observação sistemática ou estru­turada (observação direta), a coleta e registro de eventos observados são previamente definidos. Observador, munido de uma listagem de comportamento, registra a ocorrência destes comportamentos em um determinado período de tempo, classificando-os em categorias ou caracterizando-os por meios de sinais.
O registro dos dados pode ocorrer no ato, observando-se diretamente, no momento em que ocorrem. Deste modo, pode-se observar os eventos no contexto em que se dão e observar a relação com outros atos e as circunstâncias que influenciaram sua ocorrência, e permitir uma análise mais compreensiva dos dados. Pode-se também filmar (observação indireta) os acontecimentos e extrair os dados de filmes e vídeos.

Não participante – O pesquisador mesmo em contato com a realidade investigada, não pode integrar-se a ela. Observa o fato ou fenômeno, porém não participa do mesmo. Também é conhecida como observação passiva.

Participante – Nesta técnica, o pesquisador integra-se à realidade investigada, seja porque ele já pertence a esta (observação participante natural) ou quando estranho no grupo, a ser investigado, integra-se a este com o objetivo de colher suas informações (observação participante artificial).

Individual – Ocorre quando somente um pesquisador observa o fenômeno a ser estudado.

Em equipe – Quando existe um grupo de pesquisadores para investigar o fenômeno social, sob diversos aspectos, ou ainda sob um único aspecto, havendo a correção entre os pesquisadores das distorções na observação realizada.

Na vida real – A observação é feita no próprio ambiente da realidade social, onde os dados são registrados conforme a realidade for se manifestando.

Em laboratório – A observação da realidade investigada é feita em condições de controle, através de instrumentos previamente organizados pelo pesquisador.

Já a entrevista pode ser:
Padronizada ou estruturada – quando o entrevistador segue um roteiro previamente elaborado, sem liberdade de adaptação das perguntas ora construídas. As informações colhidas sobre fatos e opiniões devem constituir-se em indicadores de variáveis que se pretende explicar. É, pois um diálogo preparado com objetivos definidos e uma estratégia de trabalho.
Alguns riscos de erros podem ser minimizados com a explicação prévia dos objetivos e fins que se almeja com a entrevista, com a escolha do local e horário convenientes ao entrevistado e com a criação de um clima de colaboração e confiança.

Despadronizada ou não estruturada – quando o entrevistador, através de perguntas abertas, pode criar no contexto da entrevista, através de uma conversa informal. O entrevistador pode usar um roteiro-base (entrevista focalizada), ou perguntas específicas (entrevista clínica), ou ainda este pode expressar-se livremente no decorrer da entrevista, incentivando o entrevistado a responder sobre os assuntos pertinentes à entrevista (entrevista não dirigida).
Para uma coleta plena das informações, o entrevistador deve manter-se na escuta ativa e com a atenção receptiva a todas as informações prestadas, quaisquer que sejam elas, intervindo com discretas interrogações de conteúdo ou com sugestões que estimulem a expressão mais circunstanciada de questões que interessem à pesquisa.
A entrevista não-diretiva tem vantagens e limites que devem ser ponderados pelo pesquisador antes de definir-se pelo seu uso.

Painel – “Consiste na repetição de perguntas, de tempo em tempo, às mesmas pessoas, a fim de estudar a evolução das opiniões em períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de maneira diversa, para que o entrevistado não distorça as respostas com essas repetições” (MARCONI; LAKATOS, 2002, p.94).

Observação Direta Extensiva
É realizada através de dois meios: o questionário e o formulário. O primeiro é uma interlocução planejada, constituído por um conjunto de perguntas pré-elaboradas, ordenadas e pré-testadas, seqüencialmente dispostas em itens que constituem o tema da pesquisa, com o objetivo de suscitar as respostas dos informantes, sendo desnecessária a presença do pesquisador na produção dessas respostas.
Os questionários são, em geral, testados: respondidos por alguns presumíveis informantes, para se identificar problemas de linguagem, de estrutura lógica ou das demais circunstâncias que podem prejudicar o instrumento. Somente após esse procedimento é que o mesmo pode ser aplicado à população investigada.
Uma carta de esclarecimento da pesquisa deve acompanhar o questionário para incentivar a devolução do mesmo. Em geral, são devolvidos cerca de 25% dos questionários aplicados.
As vantagens e desvantagens do questio­nário são apresentadas por Marconi e Lakatos (2002) da seguinte forma:

Vantagens do questionário
1. Economia de tempo, viagens ao campo de pesquisa e pessoal para aplicação do questionário;
2. Obtenção de grande número de dados e pessoas simultaneamente, com respostas mais rápidas e precisas;
3. Abrangência de uma grande área geográfica;
4. Maior liberdade e segurança nas respostas, devido ao anonimato do pesquisado, que possui maior tempo e conforto em responder ao questionário;
5. Menor risco de distorção pela não influência do pesquisador;
6. Uniformidade na avaliação;
7. Obtenção de respostas que materialmente seriam inacessíveis.

Desvantagens do questionário
1. Não abrange uma população analfabeta;
2. Percentagem pequena de retorno, muitas vezes tardio;
3. Muitas perguntas não são respondidas;
4. O pesquisador não pode tirar dúvidas quanto às perguntas não compreendidas;
5. A dificuldade de compreensão, por parte dos informantes, leva à uniformidade aparente;
6. Na leitura das questões, pode haver influência entre elas;
7. Nem sempre quem recebe o questionário é quem o responde;
8. Falta de controle na situação de resposta do pesquisado;
9. Exige um universo mais homogêneo.

Quanto ao formulário há as seguintes considerações a se tecer, conforme Marconi e Lakatos (2002):

Enquanto no questionário, o pesquisador não participa do momento de resposta às questões formuladas para o pesquisado, no formulário o pesquisador, face-a-face com o pesquisado, realiza os questionamentos e os preenche com os dados e as respostas fornecidas oralmente pelo pesquisado.

Vantagens do formulário.
1. Utilizado em toda e qualquer população, inclusive a analfabetos;
2. A presença do pesquisador pode esclarecer sobre a pesquisa e incompreensões do pesquisado;
3. Flexibilidade de adaptação quanto às perguntas que podem ser reformulados de acordo com a realidade;
4. Obtenção de dados mais complexos e úteis;
5. Facilidade de aquisição representativa de informantes;
6. Uniformidade de símbolos utilizados.

Desvantagens do formulário
1. A presença do pesquisador pode proporcionar menos liberdade nas respostas, risco de distorção e insegurança nas respostas (pela ausência do anonimato).
2. Mais demorado, pois é aplicado a uma pessoa por vez, que pode inclusive se encontrar em locais distantes.
3. Menor prazo para responder aos questionamentos, prejudicando o pensamento do pesquisado, podendo inclusive haver invalidação das respostas.

Testes
“São instrumentos utilizados com a finalidade de obter dados que permitam medir o rendimento, a competência, a capacidade ou a conduta dos indivíduos, em forma quantitativa.” (MARCONI; LAKATOS, 2002, p.125).

Análise de Conteúdo

Trata-se da análise metodológica de informações em documentos ou qualquer outro tipo de comunicação que foi documentada. A técnica se aplica à análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a um texto ou documento, permitindo que os conteúdos descritivos sejam sintetizados.
O objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas. Ou seja, o conteúdo deve ser analisado de forma crítica e o pesquisador deve avaliar tanto as mensagens explícitas como as implícitas dos textos, aprofundando o conhecimento acerca do objeto a ser investigado.

História de Vida
Introduzida pela Escola de Chicago (1920), tem sua relevância em coletar informações de vida de um ou mais informantes. Tais informações podem ser obtidas através de documentos (memórias, crônicas, relatos biográficos) ou pelas percepções do próprio pesquisador sobre a sua vida (autobiográfica).
Na forma autobiográfica o autor relata suas percepções pessoais, os sentimentos íntimos que marcaram a sua experiência ou os acontecimentos vividos no contexto da sua trajetória de vida. Outra forma dos relatos de vida é a psicobiografia, onde o autor se situa no interior de uma trama de acontecimentos aos quais atribui uma significação pessoal e diante dos quais assume uma posição particular. A psicobiografia reúne informações tanto sobre fatos quanto sobre o significado de acontecimentos vividos que forjaram os comportamentos, a compreensão da vida e do mundo da pessoa.
O objeto a ser investigado pode ou não ser um informante, pois através da história de vida, verifica-se, sobretudo, aspectos relevantes da realidade social, o contexto da vida do informante, onde ele assume o papel principal (psicobiografia). As afirmações ou relatos podem ser uma ponte para a explicação de um dado fenômeno social.
Após a explicação dos principais métodos de abordagem, de procedimentos e das técnicas de pesquisa, já se pode relacionar os PASSOS PRINCIPAIS na construção redacional, da primeira parte da metodologia, num projeto de pesquisa.

1. Abordar o enfoque filosófico e epistemológico que embasa a pesquisa, definindo o método de abordagem diante do problema a ser investigado;
2. Apresentar os procedimentos metodológicos que vão dar conta da pesquisa, diante da abordagem ora definida;
3. Expor as técnicas de pesquisa que serão desenvolvidas no decorrer da práxis investigatória, diante dos dados a serem coletados.

Todos esses três passos deverão ser explicados e inter-relacionados na metodologia, devendo haver uma coerência interna com os demais itens do projeto. Em seguida, o pesquisador estabelece a população e a amostra a ser delimitada na metodologia.

Formas de coleta de dados

Esta parte da apostila trata da coleta de dados inter-relacionada com determinados métodos procedimentais e técnicas de pesquisa, que podem ser utilizados para que a coleta seja definida na metodologia.

Coleta de Dados Quantitativos
“A coleta de dados é a etapa da pesquisa que exige uma grande quantidade de tempo e trabalho para se reunir as informações indispensáveis à comprovação da hipótese. Pressupõe a organização criteriosa da técnica e a confecção de instrumentos adequados de registro e leitura dos dados colhidos em campo” (CHIZZOTTI, 2001, p.51).

Continuando o autor, observa que a definição da técnica e a utilização do instrumento mais adequado à pesquisa não são arbitrárias. Estão conexas com as hipóteses que se quer comprovar, com os pressupostos que são assumidos e com a análise que se fará do material coletado. As técnicas e os instrumentos decorrem pois, de decisões que são tomadas no início da pesquisa, com a formulação do problema a ser investigado.

Coleta de Dados Qualitativos
No que concerne a coleta de dados no âmbito da pesquisa qualitativa, recorremos novamente a Chizzotti (2001, p. 89):

No âmbito da pesquisa qualitativa os dados são coletados interativamente, num processo de idas e voltas, nas diversas etapas da pesquisa e na interação com seus sujeitos.
São inúmeros os instrumentos de coleta de dados, entre eles temos: a) a observação participante; b) a entrevista não diretiva; c) a história de vida; d) pesquisa-ação e pesquisa-intervenção; estudo de caso.
Os dados qualitativos deverão ser validados segundo alguns critérios: fiabilidade (independência das análises meramente ideológicas do autor), credibilidade (garantia de qualidade relacionada à exatidão e quantidade das observações efetuadas), constância interna (independência dos dados em relação a aciden­talidade, ocasionalidade etc.) e transferibilidade (possibilidade de estender as conclusões a outros contextos.

Análise de conteúdo
A análise de conteúdo é um método de tratamento e análise de informações, colhidas por meio de técnicas de coleta de dados, consubstanciadas em um documento. A técnica se aplica à análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a um texto ou documento.
O objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas.

Pesquisa-ação e pesquisa-intervenção
A pesquisa-ação se propõe a uma ação deliberada visando uma mudança no mundo real, comprometida com um campo restrito, englobado em um projeto mais geral e submetendo-se a uma disciplina para alcançar os efeitos do conhecimento.
A tendência das pesquisas ativas procura ultrapassar a pesquisa-ação para assumir uma intervenção psicossociológica no nível da terapia de grupo ou no âmbito da mudança organizacional de empresa ou de departamentos.


Estudo de caso
O estudo de caso é uma caracterização abrangente para designar uma diversidade de pesquisas que coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos a fim de organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência.

O desenvolvimento do estudo de caso supõe 3 fases:
a) a seleção e delimitação do caso
A delimitação deve precisar os aspectos e os limites do trabalho a fim de reunir informações sobre um campo específico e fazer análise sobre objetos definidos a partir dos quais se possa compreender uma determinada situação. Quando se toma um conjunto de casos, o conjunto deles deve cobrir uma escala de variáveis que explicite diferentes aspectos do problema.

b) o trabalho de campo
As informações são documentadas, abrangendo qualquer tipo e informação disponível, escrita, oral, gravada, filmada que se preste para fundamentar o relatório do caso que será, por sua vez, objeto de análise crítica pelos informantes ou por qualquer interessado.

c) a organização e redação do relatório
O relatório poderá ter um estilo narrativo, descritivo, analítico, ser ilustrado ou não, filmado fotografado ou representado. Seu objetivo é apresentar os múltiplos aspectos que envolvem um problema, mostrar sua relevância, situa-lo no contexto em que acontece e indicar as possibilidades de ação para modificá-lo.

Etapas da Pesquisa Qualitativa
A pesquisa qualitativa objetiva, em geral, provocar o esclarecimento de uma situação para uma tomada de consciência pelos próprios pesquisados dos seus problemas e das condições que os geram, a fim de elaborar os meios e estratégias de resolvê-los.
O processo da pesquisa qualitativa não obedece a um padrão paradigmático. Hä diferentes possibilidades de programar a execução da pesquisa. Vale muito o trabalho criativo do pesquisador e dos pesquisados.
Pode-se estabelecer algumas etapas de trabalho para se chegar à descoberta das questões prioritárias e à ação mais eficaz para transformar a realidade. Algumas pesquisas descritivas se limitam a revelar os problemas, as avaliativas descrevem os problemas e trabalham os encaminhamentos necessários e as interventivas objetivam organizar uma mudança deliberada nas situações indesejadas.


1ª. Fase: a determinação da pesquisa
Antes de se iniciar qualquer pesquisa, é necessária uma preparação em que se preveja as negociações prévias, o pessoal, os objetivos que se tem em vista, a área de abrangência e o conjunto de estratégias para se identificar os problemas ou necessidades prioritárias.

2ª. Fase: a definição da pesquisa
- elaboração das hipóteses explicativas dos problemas identificados;
- definição do campo e do pessoal necessário;
- coleta dos dados;
- análise e síntese dos dados coletados;
- formulação sintética dos principais problemas identificados;
- discussão e análise dos problemas com os envolvidos

3ª.Fase: estratégia de ação
- traçar com os envolvidos uma estratégia de ação que responda aos problemas encontrados;
- elaborar os dispositivos e técnicas de discussão da estratégias escolhidas;
- execução das estratégias escolhidas;
- avaliação dos resultados;
- relatório crítico e análise final dos resultados conseguidos.

Conceito e significado
de população e amostra

O objetivo de toda a investigação científica é propor generalizações. Todavia, como normalmente não é possível analisarmos a população por inteiro, lançamos mão dos procedimentos de amostragem, cujas técnicas devem ter condições de representar adequadamente a população de onde se originou. Somente, a partir de uma amostra representativa de uma população é que se pode generalizar resultados.

Conceito
Por população ou universo percebemos o conjunto de objetos ou indivíduos que apresentam todos, pelo menos uma característica em comum. Por amostra, consideramos uma parte, porção ou parcela, convenientemente selecionada da população que permite representá-la de forma consistente ( GAYA, 200-).

População ou universo – é qualquer conjunto de informações que tenham, entre sí uma CARACTERÍSTICA COMUM. Exemplo: O conjunto de TODAS as estaturas de uma determinada comunidade constitui uma população de estaturas; o conjunto de TODOS os pesos constitui uma população de pesos; o conjunto de TODAS as cores de olhos constitui uma população de cores de olhos. Enquanto que a amostra, basicamente constitui uma redução da população a dimensões menores, sem perda das características essenciais (COSTA, 1998, p. 25-26).

Uma amostra, para ser BOA, tem de ser representativa, , ou seja, deve conter EM PROPORÇÃO tudo o que a população possui QUALITATIVA E QUANTITATIVA MENTE. E tem de ser IMPARCIAL, isto é, todos os elementos da população devem Ter IGUAL OPORTUNIDADE de fazer parte da amostra


9- Cronograma de execução

O cronograma é a fase de elaboração do projeto de pesquisa, em que ocorre a organização das tarefas a serem realizadas, com a previsão temporal destas, nas diferentes etapas da pesquisa. Bagno (2001, p.40) afirma: “Como o projeto é um todo coerente, as partes que o compõem estão interligadas e dependem umas das outras. Os prazos para o cumprimento de cada etapa da pesquisa vão depender das exigências de cada tarefa”.
O pesquisador ao organizar o seu cronograma de pesquisa deve primeiro elaborar tarefas condizentes com o projeto até então, principalmente com os objetivos e a metodologia planejada, pois no cronograma as tarefas devem conter objetividade e precisão de quando serão realizadas.
O professor-orientador da pesquisa verifica se o cronograma elaborado está sendo cumprido pelo aluno-orientando (pesquisador). Cada etapa planejada serve como um “fio condutor” para o próprio pesquisador na execução da sua pesquisa. Por exemplo: se uma dada tarefa não foi cumprida, naquele determinado tempo, por que aconteceu tal imprevisto? Quais foram os motivos? Quais as conseqüências da não realização do planejado? Com isso, tanto o orientador quanto o orientando avaliam a pesquisa e a forma como ela está se desenvolvendo.
Um ponto importante é a flexibilidade do cronograma. Assim como todo o projeto de pesquisa em geral, este pode ser reformulado para garantir a fidedignidade da práxis no ato de pesquisar. Se o não cumprimento de um prazo é motivo para uma avaliação do projeto em si, em sua seriedade, muitas vezes, a realidade da pesquisa coloca o pesquisador em situações, em que as tarefas planejadas devem ser novamente elaboradas, com novas previsões de tempo. Não se espante quando isso ocorrer, é um momento de reflexão, buscando a objetividade da pesquisa.
O cronograma vai tendo o seu formato de acordo com as necessidades executórias da pesquisa, podendo cada um construir um cronograma diferente.

[1] Material para fundamentação e explicitação de Projeto de Pesquisa, disponível em : http://www1.uea.edu.br/data/categoria/posgraduacao/download/361-8.doc%20.%20%3cAcesso%20em%2010/10/2007">http://www1.uea.edu.br/data/categoria/posgraduacao/download/361-8.doc . >. Objetivo disseminar a metodologia sobre a confeçção do Projeto visando a orientação de alunos.

domingo, 7 de outubro de 2007

Ética e responsabilidade social: um grande desafio às organizações contemporâneas

Resumo – Este ensaio tem a pretensão de estabelecer alguns esclarecimentos incipientes sobre Ética e Responsabilidade Social. Além de um pequeno esboço histórico, também versa sobre alguns critérios necessários para que uma empresa seja reconhecida como eticamente e socialmente responsável.


Introdução

Como decorrência de um cenário plural, marcado pela idéia de mudanças em todas as dimensões, da constatação de que no momento atual uma “razão única, tornou-se inaceitável”, é gratificante acompanharmos o esforço humano na busca de novos empreendimentos que visam a melhorar as condições humanas, pautados numa idéia de sustentabilidade. Vivemos então, uma espécie de revisionismo em relação às atitudes tomadas em toda a modernidade.
Nesses últimos quinhentos anos (a partir de uma perspectiva antropocêntrica) o homem, concebendo-se como sujeito privilegiado, abusou da sua capacidade de intervir na natureza. Várias contribuições significativas resultam desse processo por um lado, por outro, olhando para nossa história recente, é possível identificarmos alguns equívocos cometidos.
Chegamos, então, a um impasse: somos vitoriosos em questões tecnológicas e mal administrados em questões humanas. No bojo desses novos cenários, assistimos com entusiasmo, a algumas atitudes que demonstram essa capacidade do ser humano se reinventar e querer melhorar suas ações. No que tange ao universo das organizações, há uma temática recente que vem sendo colocada em pauta: trata-se da Responsabilidade Social.
Mas o que significa Responsabilidade Social? Quando surgiu esse debate no Brasil e no Mundo? Quais os critérios para considerarmos uma empresa socialmente responsável? Quais os desafios que a Responsabilidade Social nos propõe? Este ensaio tem a pretensão de apresentar alguns conceitos sobre a referida temática, buscando localizar a questão desde uma conceituação, até demonstrar os desafios que ela nos sugere.


1 Localizando a questão

Quando falamos em Responsabilidade Social, a primeira e mais comum inquietação que emerge diz respeito a sua conceituação. Esta necessidade surge, até porque as pessoas não têm clareza do que se trata e também pelo cuidado de não cometermos alguns equívocos sobre o seu real significado. E aqui cabe um esclarecimento inicial: “No Brasil, ainda se entende e se confunde a responsabilidade social empresarial ou a cidadania empresarial com o investimento que a empresa faz na comunidade. É até muito comum ouvirmos de uma organização: “somos uma empresa socialmente responsável porque apoiamos determinado projeto ou fazemos doações para a comunidade” (Grajew, 1999). Grajew nos chama atenção para uma concepção mais alargada de Responsabilidade Social, que não restringe o verdadeiro sentido da referida temática. Em seu entendimento, quando falamos em Responsabilidade Social,
Estamos tratando da relação ética, da relação socialmente responsável da empresa em todas as suas ações, em todas as suas políticas, em todas as suas práticas, em todas as suas relações. Isso significa responsabilidade social da empresa em relação à comunidade, aos seus empregados, aos seus fornecedores, aos fornecedores de seus fornecedores, aos fornecedores dos fornecedores dos seus fornecedores, ao meio-ambiente, ao governo, ao poder público, aos consumidores, ao mercado, aos acionistas (Grajew, 1999).
Já outro empresário, quando questionado sobre o que significa Responsabilidade Social pelo Jornal Zero Hora, teceu a seguinte definição:
Uma característica fundamental é a preocupação com a qualidade de vida dos diferentes públicos que se relacionam com esta empresa. A corporação precisa embasar suas ações na humanização das relações com o consumidor, com o ambiente e a sua sustentabilidade social. Ética e transparência são fundamentais (Mattar, op. cit.).
Antes de tematizarmos outros aspectos sobre os princípios de uma empresa socialmente responsável, iremos apresentar, segundo dados do instituto Ethos de Responsabilidade Social, alguns aspectos históricos do desenvolvimento da questão no Brasil e no mundo. Para Saraiva, no Brasil esse movimento começa a ganhar força a partir da década de 60 por alguns movimentos de empresários brasileiros que almejam pautar suas ações com base em princípios éticos, visando à construção da cidadania.
Esses grupos começam a tomar uma série de iniciativas que mais tarde iriam resultar nesse movimento recente de Ética e Responsabilidade Social a que assistimos hoje. Tudo começou quando:
No início da década de 60, um grupo de empresários em sintonia com as propostas da Union Internacionale Chrétienne des Drigentes d’Enterprise (UNIAPAC) – entidade belga, de 1931, que congrega empresários que adotam os fundamentos da Doutrina Social Cristã como princípio para o desenvolvimento sócio-econômico – fundou em São Paulo a Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas de São Paulo – ADCE/SP. Esta surge com o objetivo de “estudar, viver e definir nas atividades econômica e social os princípios e a aplicação dos ensinamentos cristãos, através da educação e da formação do meio empresarial (Saraiva, 2002).
Com uma concepção avançada de ser humano e com base no código de conduta da entidade os membros da ADCE/SP, assumem um compromisso com a valorização do ser humano de forma integral: dentro e fora das suas organizações. Saraiva, ainda, chama atenção para uma mudança de atitude no que tange à questão da concepção individualista de lucro.
Esses empresários negam essa concepção de lucro que visa aos fins somente da empresa e, neste contexto, entendem e elegem dez princípios para agenciar as tomadas de decisões em suas organizações: “respeitos éticos, funções sociais, serviço à comunidade, lucro como remuneração, exigências legais, contribuição efetiva, respeito aos colaboradores, produtividade para todos, condições motivadoras e abertura ao diálogo” (Saraiva, 2002).
Essa concepção inovadora de gestão organizacional encontra algumas objeções. Como sabemos, na década de 60, o regime militar obstaculariza tais atitudes, sendo que a Responsabilidade Social vai ganhar força e espaço somente a partir do processo de redemocratização e da luta por direitos humanos. Essa luta por novas posturas desperta os empresários para a questão do bem-estar social.
Nas décadas de 70 e 80 (Saraiva, 2002), alguns atores tiveram papel de destaque no movimento: FIDES – Fundação Instituto de Desenvol­vimento Empresarial e Social, entidade criada com base no trabalho da ADCE, de caráter educativo cultural, com o objetivo de “humanizar as empresas e integrá-las à sociedade”; o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que entre tantas participações em movimentos sociais participou da criação do IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas e a campanha pela adoção do Balanço Social, em 1981.
O IBASE, que surgiu inicialmente com a proposta de democratizar a informação, contribuiu na mobilização da sociedade civil e das empresas em torno de campanhas como Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida (1993); PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais, movimento de caráter político, formado por líderes empresariais, que surgiu em 1987 para promover a democracia e cidadania, através da participação política e elaboração de propostas para questões públicas; CIVES – Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania, também de caráter político, visa a desenvolver a cidadania, aprimorar a democracia, e defender a ética e a justiça social através da conscientização do empresariado.
Saraiva (2002) ainda destaca outras atitudes tomadas na década de noventa, sendo as principais: O GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, fundado em 1995 com o intuito e com propostas claras de investimentos no social privado. Entre os inúmeros objetivos deste grupo há que ser ressaltado: “aperfeiçoar e difundir conceitos e práticas do uso de recursos privados para o desenvolvimento do bem comum”. Também na década de 90, especificamente em 1998, ocorre a criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, que entre outros objetivos tem a pretensão de
promover e disseminar a prática da responsabilidade social, através da elaboração de publicações de apoio, articulação de parcerias, captação e divulgação de informações, encontros periódicos entre o empresariado para discutir temas de destaque dentro da causa. Entre suas propostas, incorporam-se ainda ações com outros dois públicos: jornalistas e universitários (Saraiva, 2002).
Ações como as do Instituto Ethos estão sendo vistas como exitosas, pois em apenas quatro anos, mais de 570 empresas estão predispostas em inserirem em suas ações a Responsabilidade Social como uma das diretrizes norteadoras envolvendo mais de um milhão de funcionários. Esse processo vem inclusive, confirmando um espaço privilegiado do Brasil em relação aos demais países da América Latina no que tange à Responsabilidade Social.
No que concerne ao cenário internacional, também houve um crescimento significativo, a partir da década de 90 segundo dados da Instituto Ethos: “O BSR – Business for Social Responsibility, situado nos Estados Unidos, é uma das principais referências mundiais sobre este tema e conta com mais de 1400 empresas associadas, o que representa um faturamento conjunto de 1,8 trilhões de dólares. Na América Latina, o BSR lidera uma rede de instituições e empresas, o Foro Empresa (Foro de la Empresa y la Responsabilidad Social en América), uma aliança iniciada em 1997 para fortalecer e apoiar o desenvolvimento sustentável comprometido com a responsabilidade social, nacional ou regionalmente, nas Américas.
O Fórum, que possui sede rotativa, desde março de 2001 atua com escritório no Brasil, e congrega além do Instituto Ethos, Acción Empresarial, do Chile, Fundemás de El Salvador, ARSE – Alianza para la Responsabilidade Social Empresarial do México, Peru 2021, do Peru, e BSR Panamá e Prince of Wales International Business Leaders Forum, da Inglaterra – este por ser ativo na América Latina” (Saraiva, 2002). A Europa também não fica fora desse novo modo de agir em defesa de posturas mais humanizantes nas organizações:
Na Europa, o CSR Europe – Corporate Social Responsibility in Europe, com sede na Bélgica, congrega organizações de 12 países que difundem a responsabilidade social das empresas regionalmente. Entre essas organizações estão o Business in the Community, no Reino Unido, Fundación Empresa y Sociedad, na Espanha, Hellenic Network for Corporate Social Responsibility, na Grécia, Swedish Jobs & Society, na Suécia, Philias, na Suíça, entre outras. Embora estejam em níveis diferentes de desenvolvimento e atuação, todas as entidades acima alinham-se aos valores e propostas desenvolvidas pelo CSR Europe. Além deste grupo encontramos ainda o Forum Responsible Business, na Polônia e a M.A.A.L.A. business for social responsibility, de Israel (Saraiva, 2002).
Pelo exposto, podemos verificar que a Responsabilidade Social vem tomando proporções interessantes e almejando objetivos que não seguem uma lógica cega do capitalismo selvagem. Ao contrário postula, em seus princípios, ideários pautados na idéia de bem comum, acreditando assim, num mundo socialmente melhor para todos.



2 Alguns critérios para que a empresa venha a ser considerada socialmente responsável

Para Oded Grajew (Empresário, Presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social), quando falamos em Ética e Responsabilidade Social,
estamos falando de decisões que precisam ser tomadas não porque a lei obriga. A responsabilidade social deve ser vista como ações de livre e espontânea vontade. É uma decisão voluntária, calcada não na legislação mas na ética, nos princípios e nos valores (Grajew, 1999).
Grajew, sinaliza para alguns critérios que dão sustentabilidade à idéia da Responsabilidade Social numa empresa;

a) Ação integral na sociedade
Em seu entendimento, Grajew chama atenção para um esclarecimento que consideramos fundamental. Trata-se das confusões que inúmeras organizações fazem em relação à uma ação eticamente responsável. Nesse sentido vale o seguinte alerta:
Está passando o tempo onde se avaliava a responsabilidade social de uma empresa apenas pelo fato de ela destinar uma verba para o hospital da comunidade. E com isso ela estaria livre para se envolver em corrupção, qualquer que seja o grau. Empresas que fazem contribuições para organizações que cuidam de idosos mas engana o consumidor, polui o meio ambiente ou remunera mal seus empregados (Grajew, 1999).
Para o autor do texto aqui em análise, é fundamental que tenhamos clareza de que agir com responsabilidade social exige mais do que ações isoladas. Na verdade o que ele defende, e com isso concordamos, é que se trata de uma gestão empresarial com uma visão global da Responsabilidade Social. Caso contrário estaremos restringindo o sentido autóctone da Responsabilidade Social.
Grajew também chama a atenção para o fato de que a Responsabilidade Social não deve ser vista como um fardo pesado às organizações. Nesse sentido, devemos estar cientes de que o investimento em pessoas é o maior investimento que uma organização pode ter, pois o ser humano não é um ser dispensável.
Muitos gestores não adotam a Responsabilidade Social como prática por temer não alcançar os resultados esperados. Os estudiosos da questão nos alertam que, ao vivenciarmos a Responsabilidade Social, não devemos estar armados com essas preocupações se iremos ou não ter o retorno que almejamos. O que podemos é apostar que, se tratarmos os seres humanos com dignidade e respeito, como retorno temos grandes probabilidades de recebermos o mesmo. Colhemos aquilo que semeamos.

b) Produtos Responsáveis
Para Grajew, quando as pessoas são bem tratadas, elas sentem isso e colaboram, apóiam, melhoram a forma de se relacionar e servem como sustentáculo da empresa. Isso cria uma identidade da empresa porque está continuamente agregando valores, pautados em outra escala axiológica. Isso agrega valor inclusive aos produtos que são trabalhados na organização e atrai a atenção da comunidade:
Se o consumidor percebe que minha empresa é responsável, certamente ele vai preferir meus produtos. Sendo uma empresa socialmente responsável não posso produzir maus produtos. Uma empresa socialmente responsável fabrica produtos de qualidade, seguros, e presta bons serviços. Isso faz parte do respeito ao consumidor. E se, além disso, souber que minha empresa investe na comunidade, respeita o meio ambiente, que não se envolve em corrupção, que é transparente, cada vez mais ele vai balizar suas ações levando em conta essas qualidades (Grajew, 1999).
Talento, comprometimento e qualidade dos serviços prestados são algumas diretrizes que credibilizam uma empresa socialmente responsável. Pois através desses critérios, estabelecem relações com a comunidade e acrescentam uma série de benefícios aos produtos desenvolvidos, porque, dessa forma, está interagindo com a comunidade.
Temos que ter cuidado para não cairmos num marketing insustentável de praticar apenas algumas ações isoladas com os colaboradores na comunidade e utilizarmos isso como forma de propagação da empresa. A comunidade logo percebe os interesses subjacentes que estão imersos nessas atitudes.

c) Amplo Compromisso
Para Grajew, entre as condições para que um produto seja conhecido no primeiro mundo, a empresa deve demonstrar que é socialmente responsável. Em seu entendimento, a responsabilidade social atinge dimensões que até pouco tempo eram imagináveis. Aqueles gestores que perceberam a importância desses princípios em suas tomadas de decisões conseguem, a partir de uma outra cosmovisão, agregar novos valores na sua empresa. Esses valores ganham dimensões políticas, locais, regionais, nacionais, internacionais. Em síntese, é uma empresa que traduz os seus ideais, num investimento acentuado no capital humano.
É claro que isso exige do gestor uma grande abertura e mudança de comportamento. Temos que deixar de olhar a Responsabilidade Social da Empresa apenas como um fator isolado e temos que incorporar nas diversas práticas cotidianas. Essa mudança de postura exige alguns desvencilhamentos, que aos poucos vamos identificando:
“Há dez anos, quando se procurava uma organização para pedir a ela que investisse em ações sociais, costumávamos ouvir: “Tudo bem, vou fazer um sacrifício, vou fazer uma doação”. Como se isso representasse um desvio perigoso dos negócios. Era comum também afirmações deste tipo: “Antes de tratar da responsabilidade social, preciso ganhar dinheiro”. Ou então: “Vou me preocupar com responsabilidade social no fim de semana”. O panorama hoje é completamente diferente. Responsabilidade social não é uma atividade separada do negócio da empresa. É a nova forma de gestão empresarial. E, para uma empresa ter sucesso, para conquistar e ampliar mercado, para ter competitividade, a responsabilidade social é indispensável” (Grajew, 1999).
Um amplo comprometimento com um mundo socialmente melhor para todos, aos poucos começa ser desenhado por alguns gestores, que já identificaram os limites de uma economia predadora, que marginaliza as pessoas e deixa-as coladas a uma realidade de miséria. Esses marginais são os “zeros econômicos” que não contam na contabilidade do país. Transcender esse quadro está sendo o desafio e o comprometimento de muitos empresários que vêem na Responsabilidade Social um potencial muito fecundo na busca pela dignidade humana.

d) Palavra e ação
Segundo o filósofo Habermas, em sua Teoria da ação comunicativa, na palavra que proferimos já existe uma ação. Ao observarmos o mundo dos negócios, percebemos que na esfera dos discursos somos vitoriosos. Ouvimos cotidianamente inúmeras manifestações dos empresários que denotam essa vontade de melhorar o mundo. Para o presidente do Instituto Ethos, é importante buscarmos ações coerentes com o que defendemos:
O fundamental é que ética não é só discurso ou apenas boas intenções. O que vale são as ações concretas, a coerência entre discurso e ação. E a ação é importante pelo que traz de boas conseqüências e pelo que ela sinaliza de positivo para a sociedade (Grajew, 1999).
É claro que essa coerência abarca todas as dimensões do nosso agir. Às vezes temos um discurso sobre comportamento no trânsito, na fila de uma agência bancária, sobre saber esperar, respeito ao outro, saber competir e, quando temos a primeira oportunidade, agimos de forma incoerente. Ações como estas desagradam não só àqueles que estão próximos de nós como a nós mesmos. Uma empresa que almeja ser responsável socialmente deve zelar pela transparência entre aquilo que defende e aquilo que concretiza. Nesse sentido, temos que agir não só porque a lei obriga, mas porque nos sentimos bem conosco mesmos por estarmos visando a um mundo mais digno para todos.
Os empresários sabem muito bem o poder que possuem para promoverem mudanças. A sociedade está sempre “de olho” em suas atitudes. Essa forma de fiscalizar pode possuir duas conseqüências: uma primeira positiva quando o gestor age de forma coerente e uma segunda, negativa, por más ações que serão julgadas pela sociedade. Ciente disso Grajew nos alerta:
O setor empresarial é o mais poderoso da sociedade. É o setor que detém recursos financeiros, tecnologia, poder econômico e político. E quem tem poder tem responsabilidade. E a sociedade analisa o comportamento daqueles que têm poder para tirar conclusões sobre valor, ética, moral. E isso sinaliza formas de comportamento para a sociedade. Mostra que ética, que moral, que valores estão sendo difundidos (Grajew, 1999).

e) O bom exemplo
Todos sabemos o efeito de uma boa ou má ação. As boas ações servem para dar sustentabilidade a várias mudanças. Boas ações servem como indicativos norteadores nos procedimentos éticos. Uma boa ação é aquela que não suprime os interesses coletivos. É aquela que não se baseia numa ética restrita aos interesses de quem domina. Esta boa ação motiva as pessoas ganhando dimensões muitas vezes inesperadas. No caso de uma empresa socialmente responsável, é bom ter claro que
nós, empresários, dirigentes de empresas, executivos temos a oportunidade de interferir positivamente no processo de mudança social, a partir das nossas atividades, naquilo que fazemos no dia-a-dia. Se conseguirmos, através de nossos atos, de nossos exemplos, de nossas decisões, mostrar para a sociedade um outro referencial de valor, estaremos dando um passo decisivo para a melhoria da empresa, da comunidade, da região, do Estado, do País (Grajew, 1999).
O sucesso de uma ação promovida por uma empresa com Responsabilidade Social ganha dimensões alargadas, provocando ganhos para a esfera coletiva e individual e mudando a vida das pessoas com base em valores. Aqueles empresários que ainda pensam a partir de uma visão hermética da realidade entendem que um dia, quem sabe, depois de se aposentarem, irão praticar ações socialmente responsáveis em sua organização. Nesse sentido, vale o conselho de Grajew:
Não devemos esperar determinados momentos para agir com responsabilidade social, não apenas nos fins de semana ou no momento da aposentadoria. Responsabilidade social deve ser uma tarefa diária. Temos essa oportunidade e não devemos desperdiçá-la (Grajew, 1999).
Essas boas ações contagiam todas as dimensões da vida. Se eu como empresário sou responsável socialmente, com meus amigos e família também serei. Nesse caso, o bom exemplo é um multiplicador de melhorias amplas.


3 Algumas considerações finais

Uma primeira consideração que temos a tecer consiste em reconhecer e admirar os esforços da comunidade empresarial que, a partir de uma nova escala axiológica, colocou em pauta a temática da Responsabilidade Social. Discutir e praticar a Responsabilidade Social consiste, além de um desafio, numa postura ética que, sem dúvida alguma, agrega valores a sua empresa e à humanidade.
Descontentes com as dimensões selvagens do mundo do capital, que nesses três últimos séculos reforçou uma visão predatória dos bens de consumo, destacando e criando espaço apenas para alguns, mesmo que isso implicasse na destruição da natureza e de nós mesmos, a Responsabilidade Social possui, claramente, outros indicativos. Em suas práticas e discursos, postula uma visão ética de mundo, de economia e sociedade. Potencializa o ser humano e não tira dele a capacidade de sonhar. Nesses últimos três séculos, devido o império do mundo do capital, falar em sonhos significa falar em alcance de bens materiais.
Essa cultura pobre de espírito humano está sendo repensada. Nesse sentido, a Responsabilidade Social como um critério ético e transparente, acredita num mundo que pode ser socialmente melhor e compartilhado por todos. E ainda mais: ele só poderá ser compartilhado por todos, se no bojo de suas ações tiver como elemento norteador a idéia de sustentabilidade.
Nesse sentido, a partir de uma visão mais alargada de mundo, que transcende aquelas práticas pequenas de assistencialismo, a Responsabilidade Social já não é mais uma vanguarda dos nossos tempos, mas uma condição para que nossas organizações sejam éticas.
Quando defendemos essa postura, assustamos todos aqueles que ainda desenvolvem suas atividades nas organizações, com base no paradigma que almeja o lucro a qualquer custo. Estes sem dúvida vão dizer: “O que estão querendo? São novos comunistas”. Em seu temor está intrínseca toda uma dificuldade de desvencilhamento.
Quando falamos em aderirmos a uma postura socialmente responsável em nossas organizações, não há como negar, que de imediato, emergem várias objeções. Agora, só podemos aderir a ela, se tivermos a capacidade de nos desvencilhar. E é bom que fique claro que, desta vez, não são os sociólogos, filósofos e pessoas das áreas humanas que estão indicando a Responsabilidade Social como um dos vieses que indica para a construção de um mundo melhor; desta vez, aplaudimos os esforços da comunidade empresarial que propõe e busca sustentar essa nova alternativa para as organizações: “[...] e nossa experiência, tanto no Instituto Ethos quanto na Fundação Abrinq, nos mostra que esse tipo de comportamento traz ótimos frutos. E nos permite sentir um renascimento da esperança em um futuro melhor” (Grajew, 1999).
Atitudes e ações como estas devem servir como elemento multiplicador no nosso mundo globalizado. Sem almejarem fazer da Responsabilidade um “marketing barato”, que legisla em causa própria, os empresários que estão envolvidos na defesa desse processo denotam em suas práticas uma consciência de que a empresa não pode mais ser vista como apenas mais um aspecto da sociedade, vista de longe.
Ao contrário, as organizações fazem parte das comunidades e nela estão inseridas como extensão das vivências de vários públicos. Então não há como negar que organização e sociedade se encontram concatenadas e isto, aumenta o comprometimento de uma empresa socialmente responsável, como também, de seus colaboradores.
Outro aspecto que é importante ser analisado consiste em entender que o próprio conceito de Responsabilidade Social é um conceito que está permanentemente em construção. O critério para julgá-lo se está correto consiste em perceber se é ético ou não. Se tende para o melhoramento da coletividade com base numa visão sustentável ou não. E aqui abrimos espaços para uma série de novas ações que podem ser tomadas por uma empresa socialmente responsável. Não se trata de um novo catecismo, que doutrina e arbitra as organizações. Trata-se porém de empreendermos atitudes que visem a relações que dignifiquem e potencializem o ser humano.
Ao afirmarmos isso, é comum ouvirmos: “Mas o que é que eu empresário ganho com isso”? Bem, os valores que uma empresa eticamente responsável agrega são inúmeros. E já evidenciamos vários nesse texto, segundo a perspectiva do presidente do Instituto Ethos.
Apenas gostaríamos de retomar: Ser socialmente e eticamente responsável é o melhor marketing, sem precisar apelar para as modalidades convencionais de marketing. Esse marketing é sustentável porque credibiliza o ser humano e a sociedade, fiscaliza e agrega esse tratamento ao produto de sua empresa. Então, se você não comercializa apenas produtos, mas valores... O desafio é grande e estimulante:
Cresce entre os diversos atores sociais a percepção de que as empresas têm um papel mais amplo a cumprir, sendo co-responsáveis no desenvolvimento da sociedade. Já é consenso a tese de que as empresas que quiserem crescer, serem lucrativas e terem sucesso a longo prazo precisam incorporar em suas práticas cotidianas a qualidade ética nas relações com seus diversos públicos (Grajew, 1999).
Os pesquisadores chamam nossa atenção também para o cuidado com alguns selos de responsabilidade social que entidades de cunho político estão concedendo às empresas. Os critérios para atingir esses certificados não são os mesmos que estão descritos na Lei de Responsabilidade Social da AS 8000. Sugere, por exemplo, que uma empresa que divulga seu balanço e demonstra algumas práticas sociais pode ser candidata ao certificado.
Essa discussão é mais ampla e pretendemos desenvolvê-la num outro estudo. Apenas alertamos para o fato de que o verdadeiro sentido de Responsabilidade Social requer desvencilhamentos e mudança cultural, pois, desde sempre, fomos educados para a busca do lucro a qualquer custo. Logo, se um empresário busca atingir o certificado apenas para poder exportar para a Europa, por exemplo, está perpetuando as velhas práticas embasadas na lógica do capital monopolista.
Então, o palco está criado para diversas encenações a que iremos assistir, a partir de agora. Algumas (como afirmas David Cohen na revista Exame do mês de maio), encenando práticas de boas cidadãs, outras vivenciando um sentido mais coerente com os princípios da responsabilidade social. E, para que isso ocorra, a ética é fundamental.


Referências

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SARAIVA, S. P. O movimento de responsabilidade social das empresas no Brasil e no mundo. São Paulo: Instituto Ethos, 2002.
* Este estudo surgiu a partir de duas motivações: uma primeira da participação no grupo de Responsabilidade Social do Pólo de Informática de Caxias do Sul, cujos participantes são: Eliana Mattioda (Administradora – SDE Prefeitura Municipal de Caxias do Sul), Evaldo Antonio Kuiva (Professor Dr. do Depto de Filosofia da Universidade de Caxias do Sul e Iara Fátima V. Volpato (Assistente Social da Empresa Randon) e, a segunda, de informações oriundas do Instituto Ethos de Responsabilidade Social de São Paulo que não mediu esforços em nos enviar informações, ao qual sou muito grato. Publicado numa primeira versão na Revista Global Manager.
Doutorando em Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor da Disciplina de Filosofia da Faculdade Anglo Americano Em Caxias do Sul.