domingo, 17 de fevereiro de 2008

ATITUDE ÉTICA: enfrentando os mitos na empresa

Vilmar Alves Pereira[1]

Hoje eu quero conversar com você caro leitor sobre os mitos. Você já dever estar pensando: “lá vem coisa da antiguidade!” O que quero defender aqui é que os mitos não fazem parte apenas da antiguidade, mas que estão presentes de forma muito explicita em nosso cotidiano. Nós é que não nos damos conta de suas influências? Ma s o que são os mitos?

Os mitos foram e são representações criadas em determinados tempos e lugares com o intuito de contar ou explicar alguma verdade mediante a algo não esclarecido. Suas características são: Surgem como verdades – não lógicas, mas intuídas; utilizam-se da fantasia e da imaginação; ao invés de explicar a realidade, pretendem acomodar e tranqüilizar o ser humano a ela; também apelam ao sobrenatural; ao transcendente e ao metafísico; Ex: “foi Deus que quis assim” ou “foi o destino” mediante a uma situação problema; pretendem explicar sempre a origem de algo.

Como já afirmei antes do homem utilizar a capacidade de pensar ele era apenas um ser de crenças. Nesse sentido, dependia dos mitos para explicar os fenômenos que ocorriam em seu cotidiano. Hoje em pleno século XXI os mitos ainda mantêm enorme capacidade de influências nas condutas humanas. Ou seja, ainda são identificadas verdades míticas que baseiam- se no uso da fantasia, da imaginação para acomodar e tranqüilizar as pessoas. Nesse momento, você já deve estar pensando e fazendo associações sobre quais desses mitos lhe afetam. Gostaria de citar apenas alguns nesse nosso curto espaço;

Mito da felicidade: “você é feliz à medida que consome”. Numa sociedade rica em matéria e pobre de espírito não é estranho à ampla divulgação dessa noção. As propagandas divulgadas na mídia aproximam cotidianamente a noção de consumo a noção de pessoa realizada e feliz. Será que felicidade é só isso ou por saber que todos os homens almejam a felicidade a lógica do consumo aproveita desse potencial para manipulá-lo miticamente?

Mito do poder: quem de vocês já não ouviu aquela poderosa frase: “por acaso você sabe com quem está falando?” São pessoas que carregam consigo uma visão mítica que o poder emana pela função que elas ocupam. O filósofo Nietzsche afirmava com muita veemência de que “o poder é uma característica de um fraco que percebendo em si esta fraqueza e sabendo que os outros também a possuem, utiliza do poder para se tornar forte diante dos outros”.

Mito da liderança: “alguns nascem para serem líderes outros não.” Essa noção é muito antiga. Ela já vem desde Aristóteles que afirmava que a natureza das pessoas era de acordo com sua casta social. Por isso muitos reproduziram o mito de algumas famílias ou classes nascem com esse potencial de liderança. E os outros, nunca vão conseguir ser lideres? Você não pode aprender a liderança? Não existem pesquisas e estratégias que lhe estimulam a ser líder?

Mito da qualidade total: lembro-me que as primeiras vezes que ouvi alguém discorrer sobre qualidade total era uma visão perfeita e mítica. Dava a impressão que jamais erraria. Hoje avaliando os excelentes progressos desse modelo de gestão, também é possível identificar alguns possíveis equívocos. Isto porque uma empresa é formada por pessoas e como as pessoas são suscetíveis a erros, logo os modelos também podem errar.

Mito do empreendendorismo: este é um dos mitos da empresa atual. Todos querem ser empreendedor. Quando vemos um gestor bem sucedido independente de ele ter ou não qualificação na sua área já o associamos com a idéia de uma pessoa empreendedora e bem sucedida.

“Mito de que o gerente não erra: inúmeras vezes já ouvi esta expressão: Gerente não erra no máximo se engana”.

O que me permite chamar a sua atenção em todos esses e outros milhares de mitos que interferem em nossa conduta diária, é o fato de que na maioria deles nos hipervalorizamos o ser humano, colocando-o numa condição similar a dos deuses dos mitos antigos. Tratamos o humano como ser sobrenatural. Nesse sentido, estamos fantasiando a realidade.

Proponho ao amigo leitor o exercício de que procure desmistificar à realidade. Então você verá que por trás dessas roupagens míticas que utilizamos se encontra um ser humano, às vezes fraco, carente de ajuda, que tem as mesmas necessidades fisiológicas de todos os mortais. Associe a ele um dose de humildade e verás que essa fantasia mítica não se sustenta. O que vale mesmo a pena é sermos autênticos, verdadeiros, podermos olhar no olho do outro e enfrentarmos a realidade com muito esforço e teremos conquistas que não serão míticas mas prazerosas carregadas de um sentido de luta. Pense nisso e pratique essa nova atitude ética.
[1]Professor de Filosofia na Faculdade Anglo Americano de Caxias do Sul ; Doutor em Filosofia da Educação pela UFRGS. E-mail: vilmar1972@bol.com.br.

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