sábado, 27 de outubro de 2007

TIPOS DE CONHECIMENTO

1- INTRODUÇÃO
Metodologia significa estudo dos métodos ou da forma, ou dos instrumentos necessários para a construção de uma pesquisa científica; é uma disciplina a serviço da Ciência. O conhecimento dos métodos que auxiliam na elaboração do trabalho científico. Metodologia adquire o nível de típica discussão teórica, inquirindo criticamente sobre as maneiras de se fazer ciência. Sendo algo instrumental, dos meios, não tem propriamente utilidade direta, mas é fundamental para a ‘utilidade’ da produção científica. A falta de preocupação metodológica leva à mediocridade fatal (DEMO, 1995, p. 12).
A atividade da pesquisa necessita de método, mesmo que este seja instrumental, a fim de orientar o pesquisador à construção de quadros teóricos do conhecimento. Demo afirma que “esse instrumento [o método] é indispensável sob vários motivos: de um lado, para transmitir à atividade marcas de racionalidade, ordenação, otimizando o esforço; de outro, para garantir contra credulidades, generalizações apressadas, exigindo para tudo que se digam os respectivos argumentos; ainda, para permitir criatividade, ajudando a devassar novos horizontes” (1995, p. 12).
Na produção científica nem tudo o que se afirma ou se faz tem a mesma solidez. Nas teorias, por exemplo, podemos perceber que alguns enunciados possuem a tessitura de uma tese, significando posturas mais ou menos aceitas. Outros são apenas hipóteses, ou suposições aceitáveis, no sentido de poderem ser argumentadas. Mas há também pontos de partida sem maiores rigores comprobatórios, e mesmo gratuitos, já que não poderíamos arcar com o compromisso de elucidar definitivamente toda e qualquer afirmação (Demo, 1995, p. 12).
2 - CONHECIMENTO “O fenômeno do conhecimento humano é, sem dúvida, o maior milagre de nosso universo” (Popper, 1975, p. 7). Popper distingue dois tipos de conhecimento: o conhecimento constituído de um estado de consciência que apenas leva a reagir, e o conhecimento, no sentido objetivo constituído de problemas, teorias e argumentos. Para Khazraí o conhecimento surge Quando todas as vozes do pensamento científico se interagem nas tendências tumultuosas da afetividade, na sala de aula, no momento do estudo, no laboratório e abre frente aos nossos olhos novas perspectivas infinitas de reflexão, e faz voarem nossos espíritos no firmamento interminável da cognição e da emoção.
É nesse ponto que a ciência e o afeto se interagem para dar origem ao que nós chamamos de conhecimento (1983, p. 2). Essa é uma forma de conhecimento essencialmente científica, principalmente por ressaltar uma forma sistemática para obter conhecimento, e as discussões científicas, sala de aula, laboratório, são elementos fundamentalmente encontrados nas universidades, institutos de pesquisas etc. Vale ressaltar que o conhecimento pode ser obtido por diversas formas, ou seja, não apenas pelo método conhecimento científico. Assim, faremos a distinção entre as maneiras encontradas para se obter conhecimento e os tipos de conhecimento.
2.1 - Métodos para Obter Conhecimento.
Os métodos conhecidos para aquisição de conhecimentos, ou para compreender a realidade dos fatos, são: sentidos, raciocínio, tradição e autoridade.
2.1.1 - Sentidos• Tudo o que a visão, o audição, o gosto, o olfato, e o tato percebem é compreendido pelos sentidos. ‘Abdu’l-Bahá menciona que “esse foi o método usado pelos filósofos europeus, e era considerado como o método principal para se adquirir conhecimento” (1979, p. 238).
2.1.2 - RaciocínioÉ esse o método da compreensão. O pesquisador prova seus objetos de pesquisa pelo raciocínio, adere firmemente às provas lógicas; todos os argumentos são provenientes da observação, leituras, experiências anteriores. Provam-se fatos por argumentos lógicos. Depois de algum período de tempo, o observador revê as mudanças ocorridas no ambiente que o conduziu às primeiras conclusões e por argumentos lógicos negam as conclusões anteriores.
“Platão primeiro provou logicamente a imobilidade e o movimento do Sol, e mais tarde, provou por argumentos lógicos ser o Sol o centro estacionário em volta do qual a Terra se movia. Subseqüentemente, a teoria ptolemaica foi divulgada, vindo, assim, a ser esquecida a idéia de Platão, até que, afinal, um novo observador a ressuscitou. Todos os matemáticos, pois, dissentiram, embora dependessem de argumentos racionais” (‘Abdu’l-Bahá, 1975, p. 238).
Donde se conclui que esse é o método que mais permeia as pesquisas científicas. Os cientistas têm opiniões diferentes porque seus sistemas de valores não são unívocos. O pesquisador deve ter a liberdade para pesquisar suas idéias, seguindo regras, métodos e espírito crítico próprios.
2.1.3 - Tradição“Tampouco é perfeito este método, porque as tradições são compreendidas pelo, raciocínio. Já que o próprio raciocínio é sujeito ao erro, como pode-se dizer que não errará em interpretar o significado das tradições? É possível que se engane; não se pode atingir a certeza. É este o método dos teólogos” (‘Abdu’l-Bahá, 1975, p. 239). Também aprendemos por tradição a cura por meio de chás, e normalmente não é questionada a razão dos fatos; assim, podemos afirmar que o conhecimento obtido pelas tradições pode incorrer em dogmas. 2.1.4 - AutoridadeGil considera a “autoridade oriunda dos pais, professores que descrevem o mundo para as crianças. Governantes, líderes partidários, jornalistas e escritores definem normas e procedimentos que para eles são os mais adequados. E à medida que segmentos da população lhes dão crédito, esses conhecimentos são tidos como verdadeiros” (1994, p. 19-20).
Autoridade é uma palavra que fornece um sentido dicotômico. Pode ser entendida como um vocábulo referente àquele que exerce ou tem poder sobre outrem, ou àquele que domina um determinado campo do conhecimento. Embora o argumento da autoridade seja parceiro inevitável do científico, mesmo porque o cientista se atribui autoridade, é preciso limitar sua abrangência. Muitas vezes usamos como critério decisivo do científico a maior ou menor adequação ao nosso modo particular de ver o científico. Isso equivale a dizer que, se estivermos de acordo, será científico; do contrário, não. Tal colocação é um equívoco, em todos os sentidos. Se metodologicamente a atividade produz posturas diferentes, é ilógico e injusto rebaixar o ‘diferente’, só porque nos é adverso, ao ‘não-científico’ (Demo, 1995, p. 42-43).
Muitas vezes se procura citar os autores que representam maior autoridade em determinado ramo do conhecimento, em decorrência do respeito, do domínio do conhecimento. Também, por não compartilharmos de determinada idéia ou corrente filosófica não deveríamos desconsidera-las. Uma das limitações desse método é o pesquisador ficar restrito ao conhecimento da autoridade. “O apelo ao argumento da autoridade sempre aparece e pode mesmo ser o decisivo.
O apelo a ele não pode ser visto apenas como infantilismo científico, porque é condição normal social da atividade científica” (Demo, 1995, p. 42-43). 2.2 - Tipos de ConhecimentoNormalmente, os metodólogos [Gil, Trujillo Ferrari, Lakatos & Marconi] apresentam quatro classificação do conhecimento, a saber: popular, religioso, filosófico e científico. Iudícibus (1997b, p. 68), apresenta um quadro sintético desses conhecimentos:
Conhecimento Popular Conhecimento Religioso valorativo valorativo reflexico inspiracional (dogmático) assistemático verificável sistemático não-verificável falível infallível inexato exato Conhecimento Filosófico Conhecimento Científico valorativo explorativo racional (lógico) racional-contingencial sistemático assistemático não-verificável verificável infalível falível exato Aproximadamente exato.
2.2.1 - Conhecimento Popular
O conhecimento popular é assistemático e é conferido pela familiaridade que se tem com os objetos, geralmente é aquele conhecimento adquirido no meio familiar. “Esse conhecimento é resultado de suposições e de experiências pessoais. Portanto, e informação íntima, porém não sistematizada, desde que não foi suficientemente refletida para ser reduzida a uma formulação geral. De modo que tais experiências não podem ser transmitidas fácil e compreensivelmente de uma pessoa para outra. Assim, pelo conhecimento familiar, as pessoas sabem que água é um líquido; mas, não compreender como se origina e qual é a sua composição molecular, assunto que já corresponde ao domínio da ciência” (Trujillo Ferrari, 1982, p. 6).
No exemplo da água, dado por Trujillo Ferrari, é mencionado que não se pode compreender sua origem, acreditamos que nesse nível de conhecimento [popular] não há preocupação com a origem dos fatos de uma forma geral, visto que apresenta como características valorativas, assistemáticas, falível, inexato, entre outras.
2.2.2 - Conhecimento ReligiosoAs crenças religiosas costumam constituir fontes privilegiadas de conhecimento, e por se tratar do conhecimento do Ser superior, sobrepõem-se a qualquer outra forma. Bahá’u’llah, o fundador da “Fé Bahá’í”, afirma que: “A origem de toda erudição é o conhecimento de Deus - exaltada seja a Sua glória - e este só será atingido através do conhecimento de Seu Manifestante Divino” (1983, p. 175). De acordo com a visão “Bahá’í”, o verdadeiro conhecimento é alcançado quando se permite pesquisar sem preconceitos os livros sagrados que emanam dos manifestantes divinos, tais como Cristo, Moisés, Maomé, Buda Krishna, e outros. Analisando o conhecimento religioso pela comunidade científica apontaremos a definição de Trujillo Ferrari. O conhecimento religioso ou, mais propriamente dito, conhecimento teológico, implica na crença de que as verdades tratadas são infalíveis, por serem reveladas pelo sobrenatural. É um conhecimento sistemático do mundo como obra de um criador divino e cujas evidências não são verificadas.
Neste caso, a adesão do crente é um ato de fé. Enquanto que na ciência a verdade a ser atingida é falível e se sustenta em teorias que podem ser substituídas por outras mais efetivas ou válidas, o conhecimento religioso se apóia na doutrina que contém proposições sagradas (1982, p. 6). Khazraí, citando ‘Abdu’l-Bahá, afirma que “não há contradição entre a verdadeira religião e a ciência. Quando a religião se opõe à ciência, ela não passa de mera superstição: o que é contrario ao conhecimento é ignorância” (1987b, p. 28).
Quando houver acordo entre a ciência e a religião, a disputa entre o dogmatismo e o pragmatisno, empirismo e racionalismo o fim da disputa entre esses -ismos, possivelmente teremos cientistas menos materialistas e teólogos menos fanáticos.
2.2.3 - Conhecimento Filosófico. Em filosofia é permitido e usual colocar antecipadamente hipóteses que não podem ser submetidas ao crucial teste da observação. As hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência; portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação. Daí, a verificação dos enunciados filosóficos não serem confirmados nem refutados, o que não ocorre com as hipóteses dentro do campo de ciência (TRUJILLO FERRARI, 1982, p. 7).
A partir desse ponto de vista verifica-se que o conhecimento filosófico advém da observação - formulação de hipóteses - e a experimentação - verificação da hipótese. Gil considera que “os filósofos proporcionam importantes elementos para a compreensão do mundo. Em virtude de se fundamentar em procedimentos racional-especulativos, os ensinamentos dos filósofos têm sido considerados como dos mais válidos para proporcionar o adequado conhecimento do mundo” (1995, p. 20).
Vimos, assim, que o conhecimento filosófico vai da observação à experimentação, sendo, portanto, valorativo, racional, sistemático, não-verificável, infalível, exato. Iudícibus afirma que o conhecimento filosófico [...]“é aproximadamente exato (pelo menos nas ciências não-matemáticas), no sentido de que, por trabalhar com modelos, estes não têm a possibilidade de escolher todas as variáveis, principalmente nas ciências sociais” (1997, p. 68).
2.2.4 - Conhecimento Científico.
Esse tipo de conhecimento se distingue dos demais tipos apresentados, visto que oferece a verificação do fato pesquisado, é falível e sistemático. A ciência se preocupa em estabelecer as propriedades e os padrões interdependentes entre as propriedades, para construir as generalizações ou as leis. Não se duvida, entretanto, que muitas das disciplinas científicas existentes têm surgido das preocupações práticas da vida cotidiana, como a geometria dos problemas de medição e relevantamento topográfico nos campos; a mecânica de problemas apresentados pelas artes arquitetônicas; a biologia dos problemas humanos [...] (Trujillo Ferrari, 1982, p. 6).
A pesquisa científica deve ser orientada para remover barreiras e procurar resolver ou apresentar soluções para os problemas sociais, econômicos, políticos e científicos. Conforme Lakatos & Marconi, “a logicidade da ciência manifesta-se através de procedimentos e operações intelectuais que: • possibilitam a observação racional e controlam os fatos; • permitem a interpretação e a explicação adequada dos fenômenos; • contribuem para a verificação dos fenômenos, positivados pela experimentação; • fundamentam os princípios da generalização ou o estabelecimento dos princípios e das leis (1995, p.21). Para pesquisar ou elaborar um conhecimento científico, tornam-se necessário os seguintes pontos: • Construir o objeto de pesquisa; • Elaborar as hipóteses ou questões de pesquisa; • Traçar os objetivos para testar as hipóteses ou responder as questões elaboradas; • Apresentar as conclusões alcançadas. Conforme o exposto, o conhecimento científico é estruturado, limitado e utilizam-se modelos, verificáveis, falíveis, aproximadamente exatos, como foram caracterizados por Iudícibus. Concluímos que as verdades científicas são provisóriasPUBLICADO: Anais do VI Congresso Internacional de Gestão Estratégica de Custos/ Braga - Portugal.1999. Revista Brasileira de Contabilidade, n o 99. (Revista com Circulação no MERCOSUL).Autora: NÉLO, Ana Maria

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