domingo, 17 de fevereiro de 2008

ATITUDE ÉTICA: é possível agir com fé e com a razão ao mesmo tempo?

Vilmar Alves Pereira[1]

O nosso assunto dessa semana sem dúvida alguma é bastante polêmico. Há pessoas que me dizem que é melhor nem tocarmos nele. Mas como somos seres que possuímos a capacidade de pensar, seria insano não utilizar dessa categoria para refletir sobre a temática. Antes de qualquer coisa, gostaria de dizer que esta questão fé e razão não é um debate atual. Os medievais já se ocupavam do assunto.

No entanto, por ser pertinente é comum que nos deparemos ainda hoje com esse tipo de questão. Com freqüência, quando alguém sofre um acidente fatal e na dor e desespero que abate toda a família é comum ouvirmos expressões como: ”foi Deus que quis assim! Ou era a hora dele! Ou, foi o seu destino.”

É comum que inconformada qualquer pessoa procure encontrar uma explicação para o ocorrido tentando amenizar a dor que está passando ou até mesmo entendê-la. Penso que é nesses casos que a fé aparece como um aporte com efeito anestésico. No entanto o que muitas vezes vemos é uma ausência profunda da razão. Se procurarmos estabelecer algumas questões pela esfera da razão, veremos que se aproximam mais de um cunho de veracidade e não transferimos para Deus ou para o destino a culpa da ocorrência. Utilizando da razão perguntamos: a que horas ocorreu o acidente? Em que local? Qual a velocidade que o veiculo trafegava? O motorista estava em boas condições? Havia descansado? Qual era a sua idade? Costumava ingerir bebida alcoólica? Era uma pessoa comedida no transito? A rodovia e as condições de trafegabilidade eram boas?

Em certas ocasiões quando fazemos esse tipo de questões, começam aparecer outras respostas mais autenticas e duras para os motivos do acidente. Apenas estou exemplificando para abrir esta polêmica inicial.

A razão e a fé permitem ao ser humano verdadeiros exercícios. Por um lado a fé vem para saciar aquelas dimensões que a razão não explica. A fé permite ao homem um salto na direção de um transcendente que lhe escapa. Portanto a fé permite o homem de crença segurança e saciedade das incógnitas que ele não consegue resolver. Eu admiro muito os homens de fé. Admiro o esforço que fazem em justificar a sua conduta em razões desconhecidas. Muitos estampam em sua face uma manifestação de um contentamento profundo pela opção fé que fizeram. São homens que não depositam na materialidade toda a sua confiança.

Mas como a razão pode contribuir com esses homens de fé? Um exemplo claro que temos em nossa região é a obra do saudoso Pe. Galiotto Deus não é Estúpido. Uma obra impregnada do sentido e do usa da razão que contribui para o esclarecimento da fé. Quando eu li esta obra tive a sensação que nela razão e fé se intercambiam, fazendo emergir uma fé esclarecida. Aqueles que a leram de forma preconceituosa não conseguiram identificar na obra distorções do catolicismo vigente. Respeitando essas posturas antagônicas identifiquei na obra uma espécie de fé racionada, pois permite que nos perguntemos em diversos momentos seria Deus estúpido, por exemplo, em ter criado o homem e afirmado: “Crescei e multiplicai” e logo após, condenar todo o ato de sexualidade como pecado. Num outro capítulo a posição que a mulher ocupa na igreja, nos permite identificar o quanto à mulher foi discriminada na tradição ocidental e como Maria teria sido a primeira grande sacerdotiza.

Não quero entrar aqui no mérito de questões teológicas, o que estou sugerindo é uma atitude ética ao amigo leitor: questione a sua fé! Utilize da razão para buscar entender se faz sentido o que você acredita. Aposto que em muitos casos você vai se sentir muito bem por que aumentou sua convicção e sua confiança em Deus; em outros vai identificar como as religiões com o desejo de nos indicar “o caminho certo “ acabam impondo concepções distorcidas da divindade impondo um modelo que quem crê não questiono. Lhe desejo boas reflexões e que você seja livre para acreditar em Deus a ou nos deuses a luz da razão. Quem sabe isto lhe fará muito bem. E como atitude ética lhe sugiro: experimente ou discorde de mim, me envie um e-mail, pois afinal você é um ser racional e livre e como dizia o filósofo Sartre seja livre para escolher pois “somos hoje o resultado das nossas escolhas!”.




















[1]Professor de na Faculdade Anglo Americano de Caxias do Sul; doutorando em Filosofia da Educação pela UFRGS. E-mail: vilmar1972@bol.com.br.

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