domingo, 17 de fevereiro de 2008

ATITUDE ÉTICA: como lidar com razão e emoção no trabalho

Vilmar Alves Pereira[1]

Hoje eu quero conversar contigo sobrre uma situação que nos afeta com muita freqüência: a questão de levar ou não sentimentos para o seu local de trabalho. Vou defender aqui a idéia de que a tradição ocidental nos dividiu desde Platão. A conseqüência dessa divisão foi uma compreensão de que o homem que utiliza a razão é o que age corretamente em detrimento do homem como ser de emoção.

Esse discurso adentrou no interior de nossa tradição e sempre priorizou o homem como um ser de razão como bem sucedido, mesmo que para isso fosse um tanto frio. Já no século XXI, temos então um modelo de trabalho baseado numa racionalidade, denominada Por Wagner Siqueira Pinto, de instrumental estratégica “ação orientada para o alcance de metas técnicas ou de finalidades ligadas a interesses econômicos ou de poder social, através da maximização dos recursos disponíveis. (SERVA, 1997b, p.22). Segundo esse modelo o funcionário deve desprender todo o seu esforço em cumprir uma função (daí a expressão funcionário). Essa função, na maioria das vezes preconiza resultados. Nessa racionalidade você é medido por aquilo que produz. Não interessa ao seu gerente ou chefe quem você é, que problemas você está enfrentando, de que você gosta, Quantos filhos você tem, quem você ama e o que você gostaria de fazer na empresa. O que importa é que você atinja sua meta. Esse modelo de gestão não permite que você externe qualquer tipo de emoção.

Mas como já estamos no século, o pensador Wagner Siqueira Pinto, com base no pensamento do filósofo alemão Habermas, propõe um modelo de gestão muito mais coerente com o ser humano. Ele denomina de racionalidade substantiva onde a ação é: “orientada para a auto-realização, na dimensão individual, compreendida como concretização de potencialidade e satisfação, e para o entendimento, na dimensão grupal, nas direções das responsabilidades e satisfação sociais (SERVA, 1997b,p.22). A racionalidade que fundamenta essa ação é substantiva/comunicativa”.

A dedução mais lógica e clara é que necessitamos sim dos resultados numa organização. No entanto, qual é custo que tenho para obter tais resultados. Muitas empresas já estão tendo: alto índice de stress no trabalho, falta de comunicação nas organizações, pressão demasiada por metas e funcionários doentes, defeitos na produtividade.

Penso que isso é muito pouco para o estágio de evolução que chegamos. A racionalidade comunicativa substantiva lhe sugere, caro leitor que a empresa quer saber quem você é e o que gosta de fazer e também deseja que você se realize naquilo que faz. Neste modelo de gestão existe espaço para a emoção sim. Neste caso, já há um bom tempo, algumas empresas com visão mais alargada desenvolvem estratégias por uma melhor qualidade de vida do colaborador.

Nessas estratégias, além de ginástica laboral, as pessoas são tratadas como seres humanos e não meras peças na busca de resultados a qualquer custo. Essas estratégias apontam sempre para uma convivência norteada pelo diálogo franco e pelo respeito às diferenças.

Sugiro a você que desenvolve alguma atividade ou que nesse momento se encontra coordenando algum grupo a seguinte reflexão: aquilo que estou fazendo, se baseia no modelo de uma racionalidade fria e calculista ou permite que além de um resultado existam pessoas que tem sentimentos, que necessitam de uma palavra de respeito e de consideração? Sou apenas mais um número nessa engrenagem? Será que podemos nos resumir somente nisso? De que adianta ganhar bastante dinheiro e ser detestado pelos meus colaboradores? Ou, como é prazeroso atingir resultados ao lado de pessoas realizadas que gostam daquilo que desenvolvem....Se já não começou, lembre-se sempre: a atitude ética só depende de você...


[1] Professor de Filosofia na Faculdade Anglo Americano de Caxias do Sul; Doutor em Filosofia da Educação pela UFRGS. E-mail: vilmar1972@bol.com.br..

Nenhum comentário: