domingo, 17 de fevereiro de 2008

ATITUDE ÉTICA: enfrentando a idéia de normalidade

Vilmar Alves Pereira[1]

Hoje eu quero conversar contigo, caro leitor sobre a idéia de normalidade. É gozado como em algum tempo e lugar, algum ser privilegiado deve ter incutido em nós a idéia de que a maioria de nossas atitudes está em consonância com uma noção de normalidade que entendo ser problemática.

Se observarmos em nosso cotidiano, veremos que, vinculada a essa idéia de normalidade também está a ausência tanto da ética quanto da capacidade de reflexão. Assim por exemplo, para alguns é normal ao passar a catraca não cumprimentar o cobrador; para outros é normal não ceder o lugar no trânsito quando uma pessoa sinaliza pedindo para retornar a pista principal quando está com seu carro estacionado; já para outros é normal ao sentar num estabelecimento público ou num banco de ônibus não estabelecer qualquer tipo de diálogo, pois o outro é um estranho; para outros é normal o aumento de combustível por se tratar do Brasil; para outros, é normal atender as pessoas de acordo como elas se encontram vestidas; também já me disseram que é normal, alguém tratar as pessoas de acordo com o que elas parecem ser e não pelo que elas são; Para alguns é normal ficar resmungando quando ao adentrar em um estabelecimento bancário e ver um idoso receber tratamento prioritário; para outros é normal em sua compreensão o fato de que alguns nascem para mandar e outros para obedecer; Já para outros é normal que no carnaval que você pense que no carnaval tudo é permitido inclusive sair com mais de um parceiro.

Vocês já pararam para pensar que por detrás da normalidade existe a falta de educação e de respeito no caso do cobrador; falta de espírito solidário, no caso do motorista que deseja retornar a via principal; falta de capacidade de diálogo, no caso da pessoa que está sentada ao nosso lado; falta de condições mínimas de questionar, do aumento abusivo e gritante aos nossos olhos, no caso dos preços de combustíveis entre outros produtos; a falta de respeito pelas diferenças, no caso do tratamento de acordo com o que você está vestido e de quem você parece ser ou cargo que ocupa; falta de educação e respeito pelos nossos idosos pela preferência nos estabelecimentos públicos. Falta de coragem quando aceitamos de forma submissa essa premissa de alguns nascem para mandar e outros para obedecer. Falta de respeito pela dignidade humana com essa noção de permissividade em algumas festas como no carnaval.

Se “somos do tamanho daquilo que pensamos” como ponderei no artigo anterior, é mister, que adotemos uma atitude ética no sentido de questionar essas idéias de normalidade. É claro que emergirão algumas resistências e ouviremos expressões de que: “sempre foi assim e sempre será”. Eu me assusto com essa noção de permanência, num contexto onde tudo é efêmero. Podemos romper através de nossa postura e atitude este pensamento pequeno de que “tudo é normal”. As grandes invenções surgiram de pessoas que souberam romper com a normalidade. Experimente você mesmo, rompa sem agredir com modelos pré-estabelecidos.

Eu costumo fazer uma brincadeira com meus alunos quando adentram na Faculdade, e, ao invés de ser normal que todos sentem um atrás do outro, enxergando seu colega pelas costas, sugiro que sentemos em círculo. E são incontáveis os resultados dessa pequena ruptura: aumento de diálogo, maior transparência, melhor comunicação, manifestações mais espontâneas, participação mais ativa e melhor condições para um conflito de idéias sadio.

Por isso, mesmo que seja normal discordar de uma matéria lida e não se manifestar te desafio: me envie um e-mail dizendo com o que concorda e com o que discorda desse humilde texto: vamos tentar!
[1] Professor de na Faculdade Anglo Americano de Caxias do Sul; Doutor em Filosofia da Educação pela UFRGS. E-mail: vilmar1972@bol.com.br..

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